É comum escutarmos hoje que “a Santa Missa é uma festa”. Seria adequada tal definição?
Primeiramente, tenhamos em mente o que o Sagrada Magistério de nossa Santa Mãe Igreja nos ensina à respeito da Santa Missa: ela é a renovação do Sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo, que sendo verdadeiro Deus e verdadeiro homem, pagou pelos nossos pecados na cruz. Tal Sacrifício se torna presente na Santa Missa no momento em que o pão e vinho tornam-se verdadeiramente o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor (Catecismo da Igreja Católica, 1373-1381). O Santo Sacrifício da Missa é incruento (ou seja, sem sofrimento nem derramamento de sangue), ou seja, é o mesmo e único Sacrifício do Calvário, tornando-se verdadeiramente presente na Santa Missa para que possamos receber os seus frutos e nos alimentar da Carne e do Sangue de Nosso Senhor. Por isso nos ensina o Sagrado Magistério nos ensina que "o sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício." (Catecismo da Igreja Católica, 1367)
Conseqüentemente, a Santa Missa não absolutamente é uma festa no sentido popular do termo, pois a Santa Missa não é um encontro social para onde as pessoas se dirigem para comemorar algo, para confraternizarem, para comer e para dançar. A Santa Missa tem a finalidade de oferecer ao Pai o Único e Eterno Sacrifício de Nosso Senhor, e a nossa participação nele (no sentido de nos unirmos ao mistério que o sacerdote celebra no altar) nos propicia os frutos deste Sacrifício. Embora a Santa Missa tenha uma dimensão de banquete e ceia, é um banquete essencialmente sacrifical, que perde totalmente o sentido se não reconhecermos nele a dimensão de Sacrifício. Pois na Santa Missa não nos alimentamos de uma comida qualquer como em um banquete ou ceia comuns, mas sim do Carne e do Sangue de Nosso Senhor, escondidos sob a aparência do pão e do vinho.
Por outro lado, não seria errado se afirmássemos que a Santa Missa é uma festa em um sentido místico profundo, pois nela, no Santo Sacrifício de Nosso Senhor, acontece a nossa salvação. Por isso, na Santa Missa toda a Santa Igreja triunfante, padecente e militante – o que inclui a Virgem Santíssima, os santos anjos, os santos do purgatório e os santos da terra – se alegra e festejam a alegria da nossa salvação. Mas o fazem em profunda reverência, solenidade e adoração.
Olhemos para nosso povo, que vivendo em uma sociedade “descristianizada”, como declarou o saudoso Papa João Paulo II (Veritatis Splendor, 106), ignora o que seja realmente a Santa Missa. Mesmo, muitos que freqüentam a Santa Missa semanalmente ignoram este mistério, pois falta ao nosso povo noções básicas da catequese católica – o que por sua vez é conseqüência da má formação do clero; o Cardeal Ratzinger, hoje Papa bento XVI, não poupa palavras para dizer que “o que nós precisamos é de uma nova educação litúrgica, especialmente também os padres.” ("O Sal da Terra", p.141) O problema aumenta por grande parte das celebrações da Santa Missa não manifestarem externamente a sua dignidade, ao desobedecer as normas litúrgicas e ignorar a solenidade que o Sagrado Magistério recomenda para que se viva na Santa Missa - e assim se combate o ato solene de receber Nosso Senhor diretamente na boca e de joelhos, se utiliza sem real necessidade os ministros extraordinário da comunhão eucarística, sacerdotes não utilizam a casula para celebrar sem um motivo justo para isso, e assim por diante.
Historicamente falando, os protestantes não crêem na Presença Real de Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento e no Santo Sacrifício da Missa. Por isso, na tentativa de atender a ordem de Nosso Senhor (“fazei isto em memória de mim”), procuram realizar novamente última ceia apenas como “banquete”, comendo pão e bebendo vinho - e nem poderia ser diferente, pois os protestantes romperam com a sucessão apostólica, e portanto, não poderiam celebrar a Santa Missa nem se quisessem.
Mesmo caminho, posteriormente, tomaram os “católicos” ditos “progressistas”, que negam Presença Real de Nosso Senhor e o Santo Sacrifício da Missa, tendo eles como estratégia natural para disseminar suas crenças heréticas, afirmar que a Santa Missa é simplesmente "banquete", "ceia" a "festa", onde "se celebra a vida, a fraternidade e a partilha", e assim obscurecer a sua essência, que é sacrifical.
O saudoso Papa João Paulo II, em sua última encíclica, escreveu à este respeito: "As vezes transparece um compreensão muito redutiva do mistério eucarístico. Despojado do seu valor sacrifical, é vivido como se em nada ultrapassasse o sentido e o valor de um encontro fraterno ao redor da mesma. Além disso, a necessidade do sacerdócio ministerial, que se fundamenta na sucessão apostólica, fica às vezes obscurecida, e a sacramentalidade da Eucaristia é reduzida à simples eficácia do anúncio. (...) Como não manifestar profunda mágoa por tudo isto? A Eucaristia é um Dom demasiadamente grande para suportar ambigüidades e reduções." (EE 10)
Por isso mesmo, concluímos que referir-se a Santa Missa simplesmente como festa é perigoso em um meio onde o povo não é suficientemente catequizado e faz parte da estratégia dos adversários da Santa Igreja. Ao invés disso, voltemos a afirmar com clareza, juntamente com o sumo Pontífice Gloriosamente Reinante – o Papa Bento XVI - a verdadeira essência da Santa Missa: o Único e Eterno Sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Fonte: http://www.reinodavirgem.com.br/liturgia/missafesta.html
Liturgia e vida
Tomo as lições do professor de liturgia no Seminário Interdiocesano Maria Mater Ecclesiae, em Itapecerica da Serra, SP, Pe. Antonio Rivero, LC, a quem tenho a honra e a alegria de conhecer, para explanar, na coluna deste mês, sobre alguns aspectos da liturgia vivida em cada circunstância.
O referido sacerdote se indaga, em uma sua apostila para uso no seminário:
“Por que às vezes se dá essa separação? De um lado, a celebração; de outro, nossa vida não responde a essa celebração. A resposta é singela: pelo pecado e por nossa miséria.”
No tempo da graça, em que o véu do Templo se rasgou em duas partes, de alto a baixo, não deve haver essa dicotomia entre liturgia e vida. Somos chamados, como bem nos ensinou Nosso Senhor, a adorar o Pai em espírito e em verdade. Os ritos, importantíssimos, traduzem uma vivência plena e real. E, se é real, não se manifesta apenas durante os minutos da Missa, ou enquanto folheamos o breviário, ou recebemos os sacramentos. A adoração católica é interna e externa, nas palavras de Pio XII em sua encíclica Mediator Dei.
A santificação do cristão se dá pela ação da graça que nos chegam pelos sacramentos, que celebramos na liturgia. Os sacramentos são os canais da graça, sem a qual não podemos ser salvos, não podemos ser santos. A liturgia é a celebração desses sacramentos, é o espaço apropriado para a fluência da graça em nossa alma.
Na Santa Missa, assistimos à atualização da Cruz, ao espetáculo no qual, sobre o altar, usando-se do sacerdote a Ele unido pelo sacramento da Ordem, Cristo Jesus se oferece por nossa salvação. Na Eucaristia, unimo-nos intimamente a esse Jesus que, após ter-se oferecido ao Pai em sacrifício, se nos dá em alimento no seu verdadeiro Corpo e no seu verdadeiro Sangue. Nos demais sacramentos, há um acréscimo da graça santificante. Toda a liturgia fala de santificação, e não apenas a simboliza, como que a torna atual, real, concreta. Tudo isso é verdade.
Todavia, a santificação não é processo que se esgota na liturgia ou nos sacramentos. O homem que assiste Missa, que comunga, que se confessa, que caminha em procissão, que recita a Liturgia das Horas, é um homem integral, completo. Não um fantasma. E, como concreto que é, o homem se movimenta por diferentes espaços, fazendo de sua vida uma teia com distintas circunstâncias. Nessas circunstâncias é que ele é chamado a se santificar. A graça recebida nos sacramentos, celebrada na liturgia, atua nesse homem não só no espaço físico da igreja, e sim também na sua oração pessoal devocional, no seu estudo, no seu apostolado, no seu trabalho, na sua vivência em família, no seu descanso, no seu lazer.
A liturgia que é bem vivida em si mesma deve favorecer, impulsionar a que seja bem vivida também nos outros aspectos. O homem que vive bem a Missa, vive bem seu trabalho, deveres de estado, ocupações familiares, diversões etc. Em todos esses locais e ambientes devemos, a partir da liturgia, agir como Cristo, pensar como Cristo, amar como Cristo, sentir como Cristo.
Por outro lado, se a liturgia é transportada, em seu caráter espiritual, a outros ambientes para que sejam como que seu prolongamento, podemos, de outra sorte, dizer que damos vida à própria liturgia. É uma troca. O trabalho e o estudo se vivificam quando são expressão de uma liturgia bem vivida; sem embargo, a liturgia é melhor vivida quando a continuamos nos nossos afazeres cotidianos, por mais simples e “laicais” que pareçam.
Evidentemente, a liturgia não precisa de vida, no sentido mais estrito, dado que ela é justamente a fonte da nossa vida. Aqui tomamos o vocábulo em uma expressão mais poética, para ressaltar uma liturgia percebida com mais entusiasmo por todas as potências de nossa alma.
Desse modo, o primeiro lugar em que o Pe. Rivero diz que a liturgia deve ser feita vida é a oração. Liturgia é ação pública, oficial, da Igreja, mesmo quando um sacerdote, sozinho, celebra a Santa Missa sem nenhum fiel a assistir, mesmo quando um monge, no silêncio do claustro, balbucia o hino de Laudes. A oração a que o padre legionário se refere, então, não é a litúrgica, e sim a pessoal, devocional, ação privada.
A oração será tanto mais autêntica quanto mais beber na fonte inesgotável da liturgia. Não como certos liturgistas do século XX, que condenavam, na prática, as formas privadas de piedade, ou a relegavam a um segundo plano, como se fossem meramente toleradas como ações de almas mais simples. A devoção deve, sim, ser incentivada: o terço, a via sacra, as novenas, as adaptações do breviário, as bandeiras, as visitas... Porém, tudo isso deve se inebriar da liturgia.
A oração pessoal é o campo da luta, do combate entre nossa alma, com a ajuda da graça, e o demônio. A oração é também a própria luta. E nos nutrimos para essa peleja não só da própria oração, como da liturgia. Além disso, se a liturgia é o meio no qual o processo de santificação se dá, em que conformamos nossa alma à vontade de Deus, essa santificação é como que facilitada pela abertura de nossa alma, o que conseguimos formamos nossa inteligência, nossa vontade e nossas paixões no terreno próprio da oração. A oração abre nossa alma para os bens que recebemos na liturgia. Daí que precisemos cultivar, para uma liturgia bem vivida, uma oração bem feita, de íntimo relacionamento com Cristo, e aumento da amizade entre Ele e nossa alma.
Nossa santificação é um processo, e depende de nossa disponibilidade. Essa entrega nossa a Deus, para que Ele nos santifique – na liturgia e pela liturgia –, se forja pela ação do Espírito Santo e nossa liberdade durante a oração pessoal. Fazendo oração, nos fazemos receptivos à ação da graça.
Por outro lado, não só de oração vivemos. Até os religiosos contemplativos sabem do valor do trabalho. Reza e trabalha, é o conselho de São Bento, o patriarca do monaquismo no Ocidente.
Trabalhar por trabalhar é uma escravidão, um fardo. Só pela graça de Deus, somos libertos disso, em Cristo Jesus, e o trabalho se torna ocasião de grande júbilo, e locus de santidade. Assim como o sofrimento sem Cristo não tem sentido, o trabalho sem Ele é apenas uma pena imposta pelo pecado e uma forma de ganhar dinheiro. Pela graça, conquistada na Cruz, e celebrada na liturgia – e conferida também na liturgia –, o trabalho se converte em um meio pelo qual podemos, mediante as obras de nossas mãos e o fruto de nosso intelecto, dar “maior glória à Trindade e benefício à humanidade inteira”, no dizer do Pe. Rivero.
No trabalho, como na cultura, o homem reflete o que celebrou na liturgia. A liturgia é a obra de Deus no homem, e o trabalho e a cultura são obras do homem com Deus. Para que isso seja verdade, o homem precisa estar em graça, e isso só se consegue com a plena participação sacramental. Da liturgia, então, parte o homem para santificar o mundo do trabalho e da cultura. “Liturgizados”, o trabalho e a cultura adquirem novo significado. O Espírito Santo deifica o homem na liturgia para que ele humanize o mundo, e isto ele o faz pelo labor e pela construção cultural. A cultura e o trabalho, prossegue o Pe. Rivero, são como uma iconografia do Espírito Santo e do homem, e se assim não forem, serão sinais do inimigo do homem, o diabo.
A cultura e o trabalho, transformados pela graça, através da ação do homem transformado por Deus na liturgia, nos simboliza a beleza. E a beleza, bem o sabemos por Santo Tomás, tem a Deus por fonte. Não é a beleza um aspecto dos ritos litúrgicos?
Não há momento, período, recinto de nossa pobre existência nesta terra de exílio em que a luz da liturgia não possa ou não deva chegar. Da oração ao trabalho e a cultura, do espiritual ao material. E, por conta disso, da vivência plena da liturgia em cada circunstância de nosso viver, brotará um maior compromisso com Deus, Nosso Senhor, com a Igreja por Ele fundada, com a comunidade humana, com os pobres, nossos irmãos a quem devemos compaixão, e com todos aqueles a quem somos destinados para fazer apostolado.
Sem um coração completamente transformado pela vida da liturgia, não desempenharemos a contento a missão que nos foi designada por Deus. Ao contrário, vivendo a vida da liturgia plenamente, faremos vida a oração, o trabalho, a cultura, a sociedade, os pobres, o apostolado. A liturgia dará vida a tudo isso, e será mais vida à medida em que transportarmos o que celebramos para dentro do que vivemos.
Anunciado o III Congresso Romano sobre o Motu Proprio Summorum Pontificum
Recebemos, por e-mail, do Pe. Almir de Andrade, FSSP, um comunicado do Pe. Fr. Vincenzo Nuara, OP, dando notícia de um congresso sobre o Summorum Pontificum, e pedindo divulgação.
Agradecemos a confiança no Salvem, e divulgamos os dados abaixo, conforme o Fr. Nuara:
Comunicado Oficial
A Associação “Giovani e Tradizione” e o Sodalício “Amicizia Sacerdotale Summorum Pontificum” comunicam oficialmente a data do III Congresso sobre o Motu Proprio “Summorum Pontificum” de Sua Santidade Bento XVI:
Roma, Angelicum, 13 a 15 de maio 2011.
Tema: O Motu Próprio “Summorum Pontificum”, uma esperança para a Igreja.
Na tarde de sexta-feira 13 de maio se dará início aos trabalhos com o pré-congresso, reservado somente aos sacerdotes, religiosos e candidatos ao sacerdócio.
Sábado, 14 de maio, o congresso prevê duas sessões, uma pela manhã e outra pela tarde.
O congresso será arrematado com a Santa Missa Pontifical na Basílica de São Pedro, ao altar da Cátedra, no domingo 15 de maio 2011, celebrada por Sua Eminência Reverendíssima o Senhor Cardeal Antonio Canizares Llovera, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos.
Depois da Santa Missa os participantes do congresso estarão presentes ao “Angelus” com o Santo Padre Bento XVI, ao meio-dia, na Praça de São Pedro.
Mais informações serão oferecidas em breve no site:www.giovanietradizione.org
Roma, 13 de outubro de 2010.
Padre use o preto na missa de finados, mesmo na forma ordinária!
Liturgia e vida
Tomo as lições do professor de liturgia no Seminário Interdiocesano Maria Mater Ecclesiae, em Itapecerica da Serra, SP, Pe. Antonio Rivero, LC, a quem tenho a honra e a alegria de conhecer, para explanar, na coluna deste mês, sobre alguns aspectos da liturgia vivida em cada circunstância.
O referido sacerdote se indaga, em uma sua apostila para uso no seminário:
“Por que às vezes se dá essa separação? De um lado, a celebração; de outro, nossa vida não responde a essa celebração. A resposta é singela: pelo pecado e por nossa miséria.”
No tempo da graça, em que o véu do Templo se rasgou em duas partes, de alto a baixo, não deve haver essa dicotomia entre liturgia e vida. Somos chamados, como bem nos ensinou Nosso Senhor, a adorar o Pai em espírito e em verdade. Os ritos, importantíssimos, traduzem uma vivência plena e real. E, se é real, não se manifesta apenas durante os minutos da Missa, ou enquanto folheamos o breviário, ou recebemos os sacramentos. A adoração católica é interna e externa, nas palavras de Pio XII em sua encíclica Mediator Dei.
A santificação do cristão se dá pela ação da graça que nos chegam pelos sacramentos, que celebramos na liturgia. Os sacramentos são os canais da graça, sem a qual não podemos ser salvos, não podemos ser santos. A liturgia é a celebração desses sacramentos, é o espaço apropriado para a fluência da graça em nossa alma.
Na Santa Missa, assistimos à atualização da Cruz, ao espetáculo no qual, sobre o altar, usando-se do sacerdote a Ele unido pelo sacramento da Ordem, Cristo Jesus se oferece por nossa salvação. Na Eucaristia, unimo-nos intimamente a esse Jesus que, após ter-se oferecido ao Pai em sacrifício, se nos dá em alimento no seu verdadeiro Corpo e no seu verdadeiro Sangue. Nos demais sacramentos, há um acréscimo da graça santificante. Toda a liturgia fala de santificação, e não apenas a simboliza, como que a torna atual, real, concreta. Tudo isso é verdade.
Todavia, a santificação não é processo que se esgota na liturgia ou nos sacramentos. O homem que assiste Missa, que comunga, que se confessa, que caminha em procissão, que recita a Liturgia das Horas, é um homem integral, completo. Não um fantasma. E, como concreto que é, o homem se movimenta por diferentes espaços, fazendo de sua vida uma teia com distintas circunstâncias. Nessas circunstâncias é que ele é chamado a se santificar. A graça recebida nos sacramentos, celebrada na liturgia, atua nesse homem não só no espaço físico da igreja, e sim também na sua oração pessoal devocional, no seu estudo, no seu apostolado, no seu trabalho, na sua vivência em família, no seu descanso, no seu lazer.
A liturgia que é bem vivida em si mesma deve favorecer, impulsionar a que seja bem vivida também nos outros aspectos. O homem que vive bem a Missa, vive bem seu trabalho, deveres de estado, ocupações familiares, diversões etc. Em todos esses locais e ambientes devemos, a partir da liturgia, agir como Cristo, pensar como Cristo, amar como Cristo, sentir como Cristo.
Por outro lado, se a liturgia é transportada, em seu caráter espiritual, a outros ambientes para que sejam como que seu prolongamento, podemos, de outra sorte, dizer que damos vida à própria liturgia. É uma troca. O trabalho e o estudo se vivificam quando são expressão de uma liturgia bem vivida; sem embargo, a liturgia é melhor vivida quando a continuamos nos nossos afazeres cotidianos, por mais simples e “laicais” que pareçam.
Evidentemente, a liturgia não precisa de vida, no sentido mais estrito, dado que ela é justamente a fonte da nossa vida. Aqui tomamos o vocábulo em uma expressão mais poética, para ressaltar uma liturgia percebida com mais entusiasmo por todas as potências de nossa alma.
Desse modo, o primeiro lugar em que o Pe. Rivero diz que a liturgia deve ser feita vida é a oração. Liturgia é ação pública, oficial, da Igreja, mesmo quando um sacerdote, sozinho, celebra a Santa Missa sem nenhum fiel a assistir, mesmo quando um monge, no silêncio do claustro, balbucia o hino de Laudes. A oração a que o padre legionário se refere, então, não é a litúrgica, e sim a pessoal, devocional, ação privada.
A oração será tanto mais autêntica quanto mais beber na fonte inesgotável da liturgia. Não como certos liturgistas do século XX, que condenavam, na prática, as formas privadas de piedade, ou a relegavam a um segundo plano, como se fossem meramente toleradas como ações de almas mais simples. A devoção deve, sim, ser incentivada: o terço, a via sacra, as novenas, as adaptações do breviário, as bandeiras, as visitas... Porém, tudo isso deve se inebriar da liturgia.
A oração pessoal é o campo da luta, do combate entre nossa alma, com a ajuda da graça, e o demônio. A oração é também a própria luta. E nos nutrimos para essa peleja não só da própria oração, como da liturgia. Além disso, se a liturgia é o meio no qual o processo de santificação se dá, em que conformamos nossa alma à vontade de Deus, essa santificação é como que facilitada pela abertura de nossa alma, o que conseguimos formamos nossa inteligência, nossa vontade e nossas paixões no terreno próprio da oração. A oração abre nossa alma para os bens que recebemos na liturgia. Daí que precisemos cultivar, para uma liturgia bem vivida, uma oração bem feita, de íntimo relacionamento com Cristo, e aumento da amizade entre Ele e nossa alma.
Nossa santificação é um processo, e depende de nossa disponibilidade. Essa entrega nossa a Deus, para que Ele nos santifique – na liturgia e pela liturgia –, se forja pela ação do Espírito Santo e nossa liberdade durante a oração pessoal. Fazendo oração, nos fazemos receptivos à ação da graça.
Por outro lado, não só de oração vivemos. Até os religiosos contemplativos sabem do valor do trabalho. Reza e trabalha, é o conselho de São Bento, o patriarca do monaquismo no Ocidente.
Trabalhar por trabalhar é uma escravidão, um fardo. Só pela graça de Deus, somos libertos disso, em Cristo Jesus, e o trabalho se torna ocasião de grande júbilo, e locus de santidade. Assim como o sofrimento sem Cristo não tem sentido, o trabalho sem Ele é apenas uma pena imposta pelo pecado e uma forma de ganhar dinheiro. Pela graça, conquistada na Cruz, e celebrada na liturgia – e conferida também na liturgia –, o trabalho se converte em um meio pelo qual podemos, mediante as obras de nossas mãos e o fruto de nosso intelecto, dar “maior glória à Trindade e benefício à humanidade inteira”, no dizer do Pe. Rivero.
No trabalho, como na cultura, o homem reflete o que celebrou na liturgia. A liturgia é a obra de Deus no homem, e o trabalho e a cultura são obras do homem com Deus. Para que isso seja verdade, o homem precisa estar em graça, e isso só se consegue com a plena participação sacramental. Da liturgia, então, parte o homem para santificar o mundo do trabalho e da cultura. “Liturgizados”, o trabalho e a cultura adquirem novo significado. O Espírito Santo deifica o homem na liturgia para que ele humanize o mundo, e isto ele o faz pelo labor e pela construção cultural. A cultura e o trabalho, prossegue o Pe. Rivero, são como uma iconografia do Espírito Santo e do homem, e se assim não forem, serão sinais do inimigo do homem, o diabo.
A cultura e o trabalho, transformados pela graça, através da ação do homem transformado por Deus na liturgia, nos simboliza a beleza. E a beleza, bem o sabemos por Santo Tomás, tem a Deus por fonte. Não é a beleza um aspecto dos ritos litúrgicos?
Não há momento, período, recinto de nossa pobre existência nesta terra de exílio em que a luz da liturgia não possa ou não deva chegar. Da oração ao trabalho e a cultura, do espiritual ao material. E, por conta disso, da vivência plena da liturgia em cada circunstância de nosso viver, brotará um maior compromisso com Deus, Nosso Senhor, com a Igreja por Ele fundada, com a comunidade humana, com os pobres, nossos irmãos a quem devemos compaixão, e com todos aqueles a quem somos destinados para fazer apostolado.
Sem um coração completamente transformado pela vida da liturgia, não desempenharemos a contento a missão que nos foi designada por Deus. Ao contrário, vivendo a vida da liturgia plenamente, faremos vida a oração, o trabalho, a cultura, a sociedade, os pobres, o apostolado. A liturgia dará vida a tudo isso, e será mais vida à medida em que transportarmos o que celebramos para dentro do que vivemos.
Anunciado o III Congresso Romano sobre o Motu Proprio Summorum Pontificum
Recebemos, por e-mail, do Pe. Almir de Andrade, FSSP, um comunicado do Pe. Fr. Vincenzo Nuara, OP, dando notícia de um congresso sobre o Summorum Pontificum, e pedindo divulgação.
Agradecemos a confiança no Salvem, e divulgamos os dados abaixo, conforme o Fr. Nuara:
Comunicado Oficial
A Associação “Giovani e Tradizione” e o Sodalício “Amicizia Sacerdotale Summorum Pontificum” comunicam oficialmente a data do III Congresso sobre o Motu Proprio “Summorum Pontificum” de Sua Santidade Bento XVI:
Roma, Angelicum, 13 a 15 de maio 2011.
Tema: O Motu Próprio “Summorum Pontificum”, uma esperança para a Igreja.
Na tarde de sexta-feira 13 de maio se dará início aos trabalhos com o pré-congresso, reservado somente aos sacerdotes, religiosos e candidatos ao sacerdócio.
Sábado, 14 de maio, o congresso prevê duas sessões, uma pela manhã e outra pela tarde.
O congresso será arrematado com a Santa Missa Pontifical na Basílica de São Pedro, ao altar da Cátedra, no domingo 15 de maio 2011, celebrada por Sua Eminência Reverendíssima o Senhor Cardeal Antonio Canizares Llovera, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos.
Depois da Santa Missa os participantes do congresso estarão presentes ao “Angelus” com o Santo Padre Bento XVI, ao meio-dia, na Praça de São Pedro.
Mais informações serão oferecidas em breve no site:www.giovanietradizione.org
Roma, 13 de outubro de 2010.
Comunicado Oficial
A Associação “Giovani e Tradizione” e o Sodalício “Amicizia Sacerdotale Summorum Pontificum” comunicam oficialmente a data do III Congresso sobre o Motu Proprio “Summorum Pontificum” de Sua Santidade Bento XVI:
Roma, Angelicum, 13 a 15 de maio 2011.
Tema: O Motu Próprio “Summorum Pontificum”, uma esperança para a Igreja.
Na tarde de sexta-feira 13 de maio se dará início aos trabalhos com o pré-congresso, reservado somente aos sacerdotes, religiosos e candidatos ao sacerdócio.
Sábado, 14 de maio, o congresso prevê duas sessões, uma pela manhã e outra pela tarde.
O congresso será arrematado com a Santa Missa Pontifical na Basílica de São Pedro, ao altar da Cátedra, no domingo 15 de maio 2011, celebrada por Sua Eminência Reverendíssima o Senhor Cardeal Antonio Canizares Llovera, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos.
Depois da Santa Missa os participantes do congresso estarão presentes ao “Angelus” com o Santo Padre Bento XVI, ao meio-dia, na Praça de São Pedro.
Mais informações serão oferecidas em breve no site:www.giovanietradizione.org
Roma, 13 de outubro de 2010.
A Associação “Giovani e Tradizione” e o Sodalício “Amicizia Sacerdotale Summorum Pontificum” comunicam oficialmente a data do III Congresso sobre o Motu Proprio “Summorum Pontificum” de Sua Santidade Bento XVI:
Roma, Angelicum, 13 a 15 de maio 2011.
Tema: O Motu Próprio “Summorum Pontificum”, uma esperança para a Igreja.
Na tarde de sexta-feira 13 de maio se dará início aos trabalhos com o pré-congresso, reservado somente aos sacerdotes, religiosos e candidatos ao sacerdócio.
Sábado, 14 de maio, o congresso prevê duas sessões, uma pela manhã e outra pela tarde.
O congresso será arrematado com a Santa Missa Pontifical na Basílica de São Pedro, ao altar da Cátedra, no domingo 15 de maio 2011, celebrada por Sua Eminência Reverendíssima o Senhor Cardeal Antonio Canizares Llovera, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos.
Depois da Santa Missa os participantes do congresso estarão presentes ao “Angelus” com o Santo Padre Bento XVI, ao meio-dia, na Praça de São Pedro.
Mais informações serão oferecidas em breve no site:www.giovanietradizione.org
Roma, 13 de outubro de 2010.
Ao contrário do que muitos pensam, o preto não foi abolido, como cor litúrgica, de nossos paramentos para as Missas e Ofícios de defuntos. Ele apenas restou facultativo, ao lado do igualmente opcional roxo.
E não estou falando do rito antigo. É do rito novo mesmo, a forma ordinária, pós-conciliar. É o rito moderno que permite, na esteira do que sempre se usou, o preto.
Para a "reforma da reforma", nada melhor do que manter a tradição. O rito romano sempre utilizou o preto nas celebrações exequiais. Eis aí um modo prático de nos situarmos na hermenêutica da continuidade, de que o Papa Bento XVI, tem falado.
Embora, pelo Novus Ordo, o roxo seja lícito, o melhor é resgatar o preto, lícito, porém esquecido. Ele é bem mais significativo, deixando o roxo apenas para os tempos penitenciais. Usar o preto deixa bem clara a distinção entre a Quaresma e o dia de finados, por exemplo.
Além de ser esteticamente bem mais apropriado. A mensagem transmitida por um sacerdote com sua casula negra é impactante. Não é de símbolos que o homem moderno para a nova evangelização ser eficaz?
Vejam alguns modelos de casulas góticas e romanas na cor negra:
Abaixo, fotos de Missas com paramentos pretos
Introdução ao Espírito da Liturgia
É um fenômeno editorial na Europa desde 1999. De autoria do então cardeal Joseph Ratzinger – hoje Papa Bento XVI -, seu título traz à memória a famosa obra de Romano Guardini (“Sobre o Espírito da Liturgia”), que, nas primeiras décadas de 1900, iniciava o movimento litúrgico.
Com este livro, o cardeal Ratzinger quer ajudar os fiéis a olhar para a fonte escondida da vida eclesial. Aí desenrola-se a ação litúrgica que, nos sacramentos, e em particular na Eucaristia, permite tomar parte na ação salvífica de Cristo. No estilo próprio do autor, abre ao leitor rasgos de contemplação, mas sem deixar de apresentar aspectos polêmicos, propostos com a habitual franqueza do Cardeal Ratzinger.Pelo estilo linear e a profundidade do pensamento, apresentando-se como uma das obras mais interessantes de toda a produção religiosa da última década, “Introdução ao Espírito da Liturgia” é leitura obrigatória a todos aqueles que desejam compreender melhor a fé e, assim, bem viver a Liturgia no seu exterior e interior.
Fiquemos com o prefácio da obra:
“Após o começo dos meus estudos de Teologia, uma das minhas primeiras leituras, no início do ano 1946, foi o pequeno livro de Romano Guardini – o seu primeiro – intitulado Sobre o Espírito da Liturgia. Editado pela Abt Herwegen, na Páscoa de 1918, como o primeiro manuscrito da série Ecclesia Orans, foi sendo reeditado até 1957 devido à procura incessante. Este pequeno manuscrito pode, com todo o direito, ser designado como o início do movimento litúrgico na Alemanha. Este livro contribuiu substancialmente para a redescoberta da Liturgia como centro inspirador da Igreja e da vida cristã na sua beleza, riqueza oculta e grandeza que transcende o tempo. Este livro conduziu a um esforço no sentido de uma celebração da Liturgia (palavra favorita de Guardini) mais na sua essência, aprendendo a compreendê-la na sua íntima aspiração e no fundo da sua forma, como a oração da Igreja, originada e conduzida pelo próprio Espírito Santo, em que Cristo, sempre de novo, se torna nosso contemporâneo, entrando na nossa vida.
Queria ousar uma tentativa de comparação que, mesmo não sendo muito exacta como acontece com todas as comparações, fosse suficientemente explícita para ser compreensível. Podia dizer-se que, em 1918, a Liturgia se assemelhava em muito a um fresco que, apesar de intacto, estava coberto por reboco. No missal, segundo o qual o padre celebrava a Liturgia, a sua forma nascida das raízes era de forte presença, para os fiéis, contudo, ela estava oculta sob formas e instruções de oração privadas. Através do movimento litúrgico e, definitivamente, após o Concílio vaticano II, o fresco foi posto a descoberto e, por um instante, ficamos fascinados pela sua beleza, pelas suas cores e formas. Porém, entretanto, na sequência de reconstruções e restaurações falhadas e devido a vagas de multidões afluentes, o fresco encontra-se em grande perigo, ameaçado de ser destruído se rapidamente não se diligenciar o necessário para pôr termo a essas influências nocivas. Obviamente, não se pode voltar a cobri-lo; recomenda-se, porém, um novo respeito ao lidar com ele, uma nova compreensão do seu testemunho e da sua realidade, para que a nova descoberta não se torne o primeiro degrau da definitiva perda.
A intenção deste meu pequeno livro, aqui apresentado ao público, é ser um auxílio para esta nova compreensão. Nas suas intenções substanciais, o livro é idêntico ao pequeno manuscrito de Guardini; é por isso que, propositadamente, escolhi um título que faz de imediato lembrar este clássico da Teologia litúrgica. Porém, o que Guardini expôs no fim da Primeira Guerra Mundial, num contexto histórico totalmente diferente, teve agora de ser transposto para a realidade das nossas interrogações, esperanças e perigos actuais. Tal como Guardini, não me detenho em discussões científicas ou investigações; antes quero ajudar a fazer compreender a fé e a contribuir para uma execução correcta da sua essencial forma de expressão dentro da Liturgi. Caso este livro consiga ser um novo estímulo para um <
Roma, nas Celebrações de Santo Agostinho 1999
Cardeal Joseph Ratzinger”
O livro ainda não foi editado no Brasil mas pode ser encomendado, na versão portuguesa, nas Edições Paulinas, na Livraria Loyola ou na Livraria Cultura.
Liturgia e vida
Tomo as lições do professor de liturgia no Seminário Interdiocesano Maria Mater Ecclesiae, em Itapecerica da Serra, SP, Pe. Antonio Rivero, LC, a quem tenho a honra e a alegria de conhecer, para explanar, na coluna deste mês, sobre alguns aspectos da liturgia vivida em cada circunstância.
O referido sacerdote se indaga, em uma sua apostila para uso no seminário:
“Por que às vezes se dá essa separação? De um lado, a celebração; de outro, nossa vida não responde a essa celebração. A resposta é singela: pelo pecado e por nossa miséria.”
No tempo da graça, em que o véu do Templo se rasgou em duas partes, de alto a baixo, não deve haver essa dicotomia entre liturgia e vida. Somos chamados, como bem nos ensinou Nosso Senhor, a adorar o Pai em espírito e em verdade. Os ritos, importantíssimos, traduzem uma vivência plena e real. E, se é real, não se manifesta apenas durante os minutos da Missa, ou enquanto folheamos o breviário, ou recebemos os sacramentos. A adoração católica é interna e externa, nas palavras de Pio XII em sua encíclica Mediator Dei.
A santificação do cristão se dá pela ação da graça que nos chegam pelos sacramentos, que celebramos na liturgia. Os sacramentos são os canais da graça, sem a qual não podemos ser salvos, não podemos ser santos. A liturgia é a celebração desses sacramentos, é o espaço apropriado para a fluência da graça em nossa alma.
Na Santa Missa, assistimos à atualização da Cruz, ao espetáculo no qual, sobre o altar, usando-se do sacerdote a Ele unido pelo sacramento da Ordem, Cristo Jesus se oferece por nossa salvação. Na Eucaristia, unimo-nos intimamente a esse Jesus que, após ter-se oferecido ao Pai em sacrifício, se nos dá em alimento no seu verdadeiro Corpo e no seu verdadeiro Sangue. Nos demais sacramentos, há um acréscimo da graça santificante. Toda a liturgia fala de santificação, e não apenas a simboliza, como que a torna atual, real, concreta. Tudo isso é verdade.
Todavia, a santificação não é processo que se esgota na liturgia ou nos sacramentos. O homem que assiste Missa, que comunga, que se confessa, que caminha em procissão, que recita a Liturgia das Horas, é um homem integral, completo. Não um fantasma. E, como concreto que é, o homem se movimenta por diferentes espaços, fazendo de sua vida uma teia com distintas circunstâncias. Nessas circunstâncias é que ele é chamado a se santificar. A graça recebida nos sacramentos, celebrada na liturgia, atua nesse homem não só no espaço físico da igreja, e sim também na sua oração pessoal devocional, no seu estudo, no seu apostolado, no seu trabalho, na sua vivência em família, no seu descanso, no seu lazer.
A liturgia que é bem vivida em si mesma deve favorecer, impulsionar a que seja bem vivida também nos outros aspectos. O homem que vive bem a Missa, vive bem seu trabalho, deveres de estado, ocupações familiares, diversões etc. Em todos esses locais e ambientes devemos, a partir da liturgia, agir como Cristo, pensar como Cristo, amar como Cristo, sentir como Cristo.
Por outro lado, se a liturgia é transportada, em seu caráter espiritual, a outros ambientes para que sejam como que seu prolongamento, podemos, de outra sorte, dizer que damos vida à própria liturgia. É uma troca. O trabalho e o estudo se vivificam quando são expressão de uma liturgia bem vivida; sem embargo, a liturgia é melhor vivida quando a continuamos nos nossos afazeres cotidianos, por mais simples e “laicais” que pareçam.
Evidentemente, a liturgia não precisa de vida, no sentido mais estrito, dado que ela é justamente a fonte da nossa vida. Aqui tomamos o vocábulo em uma expressão mais poética, para ressaltar uma liturgia percebida com mais entusiasmo por todas as potências de nossa alma.
Desse modo, o primeiro lugar em que o Pe. Rivero diz que a liturgia deve ser feita vida é a oração. Liturgia é ação pública, oficial, da Igreja, mesmo quando um sacerdote, sozinho, celebra a Santa Missa sem nenhum fiel a assistir, mesmo quando um monge, no silêncio do claustro, balbucia o hino de Laudes. A oração a que o padre legionário se refere, então, não é a litúrgica, e sim a pessoal, devocional, ação privada.
A oração será tanto mais autêntica quanto mais beber na fonte inesgotável da liturgia. Não como certos liturgistas do século XX, que condenavam, na prática, as formas privadas de piedade, ou a relegavam a um segundo plano, como se fossem meramente toleradas como ações de almas mais simples. A devoção deve, sim, ser incentivada: o terço, a via sacra, as novenas, as adaptações do breviário, as bandeiras, as visitas... Porém, tudo isso deve se inebriar da liturgia.
A oração pessoal é o campo da luta, do combate entre nossa alma, com a ajuda da graça, e o demônio. A oração é também a própria luta. E nos nutrimos para essa peleja não só da própria oração, como da liturgia. Além disso, se a liturgia é o meio no qual o processo de santificação se dá, em que conformamos nossa alma à vontade de Deus, essa santificação é como que facilitada pela abertura de nossa alma, o que conseguimos formamos nossa inteligência, nossa vontade e nossas paixões no terreno próprio da oração. A oração abre nossa alma para os bens que recebemos na liturgia. Daí que precisemos cultivar, para uma liturgia bem vivida, uma oração bem feita, de íntimo relacionamento com Cristo, e aumento da amizade entre Ele e nossa alma.
Nossa santificação é um processo, e depende de nossa disponibilidade. Essa entrega nossa a Deus, para que Ele nos santifique – na liturgia e pela liturgia –, se forja pela ação do Espírito Santo e nossa liberdade durante a oração pessoal. Fazendo oração, nos fazemos receptivos à ação da graça.
Por outro lado, não só de oração vivemos. Até os religiosos contemplativos sabem do valor do trabalho. Reza e trabalha, é o conselho de São Bento, o patriarca do monaquismo no Ocidente.
Trabalhar por trabalhar é uma escravidão, um fardo. Só pela graça de Deus, somos libertos disso, em Cristo Jesus, e o trabalho se torna ocasião de grande júbilo, e locus de santidade. Assim como o sofrimento sem Cristo não tem sentido, o trabalho sem Ele é apenas uma pena imposta pelo pecado e uma forma de ganhar dinheiro. Pela graça, conquistada na Cruz, e celebrada na liturgia – e conferida também na liturgia –, o trabalho se converte em um meio pelo qual podemos, mediante as obras de nossas mãos e o fruto de nosso intelecto, dar “maior glória à Trindade e benefício à humanidade inteira”, no dizer do Pe. Rivero.
No trabalho, como na cultura, o homem reflete o que celebrou na liturgia. A liturgia é a obra de Deus no homem, e o trabalho e a cultura são obras do homem com Deus. Para que isso seja verdade, o homem precisa estar em graça, e isso só se consegue com a plena participação sacramental. Da liturgia, então, parte o homem para santificar o mundo do trabalho e da cultura. “Liturgizados”, o trabalho e a cultura adquirem novo significado. O Espírito Santo deifica o homem na liturgia para que ele humanize o mundo, e isto ele o faz pelo labor e pela construção cultural. A cultura e o trabalho, prossegue o Pe. Rivero, são como uma iconografia do Espírito Santo e do homem, e se assim não forem, serão sinais do inimigo do homem, o diabo.
A cultura e o trabalho, transformados pela graça, através da ação do homem transformado por Deus na liturgia, nos simboliza a beleza. E a beleza, bem o sabemos por Santo Tomás, tem a Deus por fonte. Não é a beleza um aspecto dos ritos litúrgicos?
Não há momento, período, recinto de nossa pobre existência nesta terra de exílio em que a luz da liturgia não possa ou não deva chegar. Da oração ao trabalho e a cultura, do espiritual ao material. E, por conta disso, da vivência plena da liturgia em cada circunstância de nosso viver, brotará um maior compromisso com Deus, Nosso Senhor, com a Igreja por Ele fundada, com a comunidade humana, com os pobres, nossos irmãos a quem devemos compaixão, e com todos aqueles a quem somos destinados para fazer apostolado.
Sem um coração completamente transformado pela vida da liturgia, não desempenharemos a contento a missão que nos foi designada por Deus. Ao contrário, vivendo a vida da liturgia plenamente, faremos vida a oração, o trabalho, a cultura, a sociedade, os pobres, o apostolado. A liturgia dará vida a tudo isso, e será mais vida à medida em que transportarmos o que celebramos para dentro do que vivemos.