sexta-feira, 30 de julho de 2010

Que autoridade prevalece?

Muito se fala no meio protestante da autoridade suprema da Sagrada Escritura, que ela é norma de fé, Palavra de Deus inspirada, etc. e que, por isso mesmo, deve ser crida infalivelmente. Que ela é Palavra de Deus, não resta dúvidas, que é infalível – por provir do próprio Deus, também não. Que lhe devemos todo o assentimento de fé, estamos de pleno acordo, da mesma forma que concordamos que a Escritura é normativa para o cristão. O grande problema não está aí, mas sim no fato de que os protestantes colocam a Escritura como única norma de fé e prática. Nós católicos, temos como norma próxima de fé o Magistério, que se apóia nas Escrituras e na Tradição. Até porque é o próprio Magistério que nos diz o que é Escritura e o que é Tradição. Se não fosse o Magistério, não saberíamos diferenciar o que é realmente Tradição daquilo que seriam somente contos, que livros são Escritura inspirada por Deus ou não. Foi o Magistério, inspirado por Deus, que pôde distinguir quais livros deveriam fazer parte do cânon bíblico e quais deviam ser rejeitados.

Calvino escreve a respeito da autoridade da Escritura nesses termos:

“Antes, porém, que se avance mais, é conveniente inserir certas considerações quanto à autoridade da Escritura, considerações que não só preparem os espíritos à sua reverência, mas também que dissipem toda a dúvida.” (CALVINO, João. As Institutas da Religião Cristã – Edição Clássica, p. 75, Editora Cultura Cristã, São Paulo, 2006).

Ele fala de fazer algumas considerações sobre a Escritura que dissipem toda a dúvida sobre essa questão. Mas ao contrário de desfazer as interrogações a respeito do tema, ele só as aprofunda e agrava, já que não as responde conforme veremos adiante.

A Escritura, é bom que tenhamos isso em mente, não apareceu por um toque de mágica, pronta, impressa, encadernada e acabada em nossas mãos. Para isso, na verdade, se percorreu um longo caminho. E esse caminho, passa inexoravelmente – goste Calvino [e os protestantes] ou não desse fato – pela autoridade da Igreja. Ele se refere a isso (a autoridade da Igreja de determinar o que é Escritura) dessa maneira:

“Tem prevalecido o erro, perniciosíssimo, de que o valor que assiste à Escritura é apenas até onde a opinião da Igreja concede… Depende, portanto, da determinação da Igreja, dizem, não só que se deve reverência à Escritura, como também quais livros devem ser arrolados em seu cânon. E, assim, homens sacrílegos, enquanto, sob o pretexto da Igreja, visam a implantar desenfreada tirania, não fazem caso dos abusos em que se enredam a si próprios e aos demais com tal poder de fazer crer às pessoas simples que a Igreja tudo pode” (Idem, p. 76)

Ele afirma que é errado sustentar a tese de que o valor da Escritura foi dado pela Igreja, de que foi a Igreja que determinou quais livros devem ser arrolados, que devemos veneração às Escrituras. Mas é muito mais fácil para ele falar tudo isso, do que responder de fato e de verdade às próprias alegações daqueles que ele diz defender absurdos. Ele falou que eles estão em tal erro, mas não o refuta. Antes prefere qualificar pejorativamente tais pessoas, como se elas estivessem ali somente para abusar da fé do povo, etc.

Então, ele diz:

“Mas, palradores desse gênero se refutam sobejamente com apenas uma palavra do Apóstolo. Categoriza ele [Ef 2,20] que a Igreja se sustém no fundamento dos profetas e dos apóstolos. Se o fundamento da Igreja é a doutrina profética e apostólica, é necessário que esta doutrina tenha a sua inteira infalibilidade antes que a Igreja começasse a existir.” (Ibidem)

Repare que, em duas frases, Calvino cria mais problemas que soluções. Vamos a eles. Primeiro ele assegura refutar somente com uma passagem o argumento das pessoas que advogam que a Escritura é decorrente da autoridade da Igreja, se referindo a Efésios 2,20. Vamos lê-lo:

“Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus.”

Convém recordar aqui, que o contexto dessa passagem fala da plena cidadania na fé dos gentios (v. 12), que não são mais peregrinos, mas, antes, são membros da família de Deus (v. 19). Bom é lembrar ainda de mais passagens onde o grande São Paulo fala sobre a Igreja e seu fundamento. Ele assevera que a Igreja é “coluna e sustentáculo da verdade” (1 Tm 3,15). Ele não diz que a Escritura é a coluna e sustentáculo da Verdade, mas a Igreja. E por quê? Pelo simples motivo de que Nosso Senhor não fundou um museu literário, mas uma Igreja. E à Igreja deu a autoridade de zelar pela verdade, pelo ensino. S. Paulo mesmo escreveu a respeito disso em outro texto:

“Assim, pois, irmãos, ficai firmes e conservai os ensinamentos que de nós aprendestes, seja por palavras, seja por carta nossa.” (2 Ts 2,15)

Repare que aqui o apóstolo não fala de conservar somente os ensinos dados de forma escrita (a Escritura), mas também de guardarem o que ouviram por palavras. Isso é a Tradição oral da Igreja.

Mas voltando ao comentário de Calvino, ele cria outro problema além desse. Ele afirma que é necessário que a doutrina dos apóstolos tenha sua inteira infalibilidade antes que a Igreja começasse a existir. Oras, isso é um contrassenso, absurdo. Quer dizer que os apóstolos não fizeram parte da Igreja, então. Afinal ainda estavam ensinando, não havia como ter a inteira infalibilidade dessa doutrina segundo Calvino. Claro, pois eles ainda não tinham tido seus ensinos “testados” para ver se eram infalíveis. Mas, que ironia. Testados por quem? Não seria pela Igreja? Veja como ele cai em contradição no seu próprio argumento. A Igreja existiu e existia sim, antes do cânon estar fechado e acabado. Senão, haveria aí um vácuo de uns 200 a 300 anos pelo menos. É inconcebível pensar que até o ano 393 (quando se definiu o cânon do Novo Testamento) não tivesse existido a Igreja, segundo a tese de Calvino.

Ademais, ele não responde o óbvio: quem disse que os livros do Novo Testamento foram inspirados? Apareceu um anjo para ele, é? Negativo. A História mostra que o cânon do Novo Testamento, assim como do Antigo, foi definido no Concílio Regional de Hipona, em 393. Aliás, este concílio reafirmou a versão da Septuaginta, em resposta ao cânon do AT que alguns fariseus impuseram no sínodo de Jâmnia (100 d.C.) e que, por sinal, é o usado pelos protestantes. E foi um concílio feito por quem? Pela Igreja, oras. E mais tarde isso foi confirmado por toda a Igreja universal em outros Concílios regionais, como no Concílio Geral de Cartago (397) e vários outros Concílios posteriores, como o Ecumênico de Florença (1439-1445) e Trento (1545-1563). Interessante é que antes de todos esses concílios, já por volta do ano 200, a Carta Pascal de Santo Atanásio já trazia um Cânon do Novo Testamento quase idêntico ao cânon atual.

Antes de encerrar, queria ver uma última declaração de Calvino, para que se veja como ele evita ir ao ponto central da questão.

“Quanto, porém, ao que perguntam: como seremos persuadidos de que as Escrituras provieram de Deus, a não ser que nos refugiemos no decreto da Igreja? É exatamente como se alguém perguntasse: de onde aprendemos a distinguir a luz das trevas, o branco do preto, o doce do amargo? Pois a Escritura manifesta plenamente evidência não menos diáfana de sua veracidade, que de sua cor as coisas brancas e pretas, de seu sabor, as doces e amargas.” (As Institutas da Religião Cristã, p. 76)

Ele trata da questão como se não houvesse a menor necessidade de uma confirmação de que tais escritos são verdadeiramente Palavra de Deus. Antes, ele coloca de forma simplória que assim como vemos claramente a luz e as trevas, veríamos também que a Escritura é inspirada.

É tão meridiana e clara a questão, que entre os próprios reformadores houve divergência nesse ponto. Lutero tinha a epistola de S. Tiago como “epístola de palha”, não sendo digna, segundo ele, de figurar no cânon bíblico. Motivo? A epístola de Tiago não casa com a justificação somente pela fé tão pregada pelos reformadores. Simples. Ela foca as nossas obras (“a fé sem obras é morta” Tg 2,26) e importância delas na nossa justificação. O mais curioso aí, não é só o argumento – simplório e improcedente – de Calvino. Mas o mais revelador, é que nem nesse trecho e nem em outros ele responde essas questões.

O interessante é que, embora os protestantes critiquem a autoridade da Igreja, ao aceitar o cânon do Novo Testamento, eles implicitamente se sujeitam a essa mesma autoridade a que Calvino chamou de tirânica e sacrílega. Aí fica a pergunta que não quer calar: como eles sabem que o Evangelho de Tomé, de Maria Madalena, Felipe, Pedro, o Livro de Henoc não são inspirados? Um anjo lhes revelou isso? Ou eles se fiam no concílio de Hipona, onde foi definido o cânon do Novo Testamento? Se eles se fiam no concílio, pergunto: que autoridade, afinal, prevaleceu: a da Escritura por si mesma, ou a da Igreja que lhe confirma a inspiração e veracidade?

quinta-feira, 29 de julho de 2010

CNBB finaliza revisão de Diretório de Liturgia 2011

Rio de Janeiro (Quinta-feira, 29-07-2010, Gaudium Press) Foi finalizada ontem pela Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a última etapa da revisão do Diretório da Liturgia 2011; referência indispensável para as equipes de Pastoral Litúrgica, que preparam as celebrações litúrgicas das comunidades, paróquias e dioceses. Com informações da CNBB.

O documento, que será publicado pelas Edições CNBB e começará a ser vendido no próximo dia 16 de agosto, foi redigido pelo Padre Rui Melatti, da arquidiocese de São Paulo e passou por duas etapas de revisão, ambas levadas a cabo por membros da comissão. A primeira ficou a cargo do assessor da Comissão, Padre Gustavo Hass, e a segunda e última fase coube ao monge beneditino do Mosteiro do Rio de Janeiro, Dom Matias Medeiros, que durante 25 anos foi o responsável pela redação do Diretório.

Sobre a rotina do trabalho de revisão do Diretório, Padre Gustavo Hass afirmou que foram necessários: horas de trabalho, de estudo e também conhecimento das normas litúrgicas da organização da Igreja no Brasil, para que o resultado fosse satisfatório. "Por isso, a Comissão conta com assessores especializados para a sua elaboração", explicou.

A CNBB informa que ainda há uma segunda parte do Diretório da Liturgia, que trata da organização da Igreja Católica no Brasil e que está sendo feita pelo subsecretário-geral adjunto da CNBB, Padre Antônio da Silva Paixão e pelo monge beneditino, Dom Hugo Cavalcante.

"Casamento" entre pessoas do mesmo sexo. (D.Odilo Schrer)‏


No caso de pessoas do mesmo sexo, não temos nenhum “casamento”
Explica o arcebispo de São Paulo, cardeal Odilo Scherer
SÃO PAULO, terça-feira, 27 de julho de 2010 (ZENIT.org) – Tratando-se de pessoas do mesmo sexo, “antes de tudo, não se deveria falar de ‘casamento’”.
É o que afirma o arcebispo de São Paulo, cardeal Odilo Scherer, ao comentar sobre a recente aprovação do “casamento” gay na Argentina, em entrevista ao jornal O São Paulo, dia 20 de junho.

Este conceito, casamento – afirma o arcebispo –, “é consagrado na linguagem e na cultura para indicar a união e o compromisso estável de duas pessoas de sexos diferentes; além disso, ‘casamento’ também tem inquestionável conotação religiosa na linguagem corrente”.

“No caso de pessoas do mesmo sexo, não temos nenhum ‘casamento’. Trata-se de outro tipo de união, acordo ou contrato”, explica o arcebispo.

Segundo Dom Odilo, se deveria falar, “de maneira mais apropriada, de ‘uniões civis’, ou de ‘reconhecimento legal’ de uniões de pessoas do mesmo sexo”.

“Essas uniões não podem ser equiparadas ao casamento entre pessoas de sexos diferentes, do qual decorre uma verdadeira família e também nascem filhos.”

O casamento “tem uma função antropológica e social muito diversa da união de pessoas do mesmo sexo”, afirma o cardeal.

Dom Odilo considera que a maneira como a questão vem sendo tratada “na legislação e nas atitudes culturais que daí decorrem certamente são uma ameaça ao casamento e à família, que deveriam merecer tratamento diferenciado por parte da sociedade e do Estado”.

“A família, no sentido tradicional, precisa ser protegida, promovida e favorecida, pois cumpre uma função social e antropológica inquestionável e insubstituível. Sem falar da função religiosa”, afirma.

Brasil: novo Ordinário para católicos de rito oriental


Dom Walmor de Azevedo sucede ao cardeal Eusébio Scheid



CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 28 de julho de 2010 (ZENIT.org) – Segundo a Santa Sé informou nesta quarta-feira, Bento XVI nomeou o arcebispo de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, como novo Ordinário para os fiéis de rito oriental residentes no Brasil e desprovidos de Ordinário do próprio rito.

O arcebispo de Belo Horizonte sucede na função ao cardeal Eusébio Oscar Scheid, arcebispo emérito do Rio de Janeiro.

Dom Walmor, 56 anos, é arcebispo de Belo Horizonte desde 2004. Doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana, é presidente do Regional Leste 2 (Minas Gerais e Espírito Santo) e da Comissão Episcopal Pastoral para a Doutrina da Fé da CNBB. Desde 2009 é também membro da Congregação para a Doutrina da Fé.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

O Milagre Eucarístico de Augsburg – Alemanha

O Milagre de Augsburg – Alemanha

A história deste milagre teve inicio com uma mulher de Augsburg que decidiu guardar a Hóstia consagrada em sua casa. Com este propósito, ela recebeu a Sagrada Comunhão e *clandestinamente retirou a Hóstia de sua boca e transportou para sua casa. Chegando em casa, ela modelou dois pedaços de cera, colocou a Hóstia entre eles e lacrou as bordas, criando desse modo, um relicário bruto.
Desta maneira, o Sagrado Sacramento permaneceu em sua casa por cinco anos, mas durante este tempo sua consciência estava tão perturbada que em 1199, ela finalmente sentiu-se obrigada a levar o assunto ao padre da Paróquia que, imediatamente foi à casa dela e devolveu a Hóstia para a Igreja de Santa Cruz.
Havia entre os padres da Paróquia um padre conhecido como Berthold, diretor do coro e que era considerado um homem muito santo. Padre Berthold foi designado para abrir o relicário de cera e foi ele o primeiro a perceber que parte da Hóstia tinha se transformado em aparência de carne, com traços vermelhos claramente definidos.
Todos os padres da comunidade que presenciaram a abertura da caixa de cera, estavam espantados. Eles debateram o assunto por muito tempo e então decidiram que deveriam melhor definir a identidade do espécime e que esta deveria ser repartida em duas partes. Para espanto deles, as partes não poderiam ser separadas, porque estavam ligadas por veias filiformes.
Ficou então definido que aquela espécime era a Carne de Jesus Cristo. Alguns padres estavam mudos ante o espetáculo; outros apavorados e, alguns sugeriram que a transformação permanecesse em segredo. O sacristão, porém, expressou a opinião de que tal acontecimento deveria ser transmitido ao Bispo.
Na presença do Bispo de Udalskalk que cuidadosamente examinou a milagrosa Hóstia, muitos paroquianos e padres de outras localidades, também viram o milagre. O Bispo ordenou então que a Sagrada Hóstia retornasse ao relicário de cera para transferi-lo à Catedral.
Na Catedral a Hóstia ficou exposta da Páscoa até a festa de São João Batista. Durante esse tempo, um segundo milagre tomou lugar: a Hóstia foi vista aumentar o tamanho até quebrar o relicário de cera, separando-se dele. Esta separação da Hóstia encarnada da cera que a cobria, foi efetuada sem nenhum tipo de intervenção humana.
Por indicação do Bispo, a milagrosa Hóstia e os pedaços de cera foram colocados em um recipiente de cristal e devolvido à Igreja de Santa Cruz. Nesta Igreja, a milagrosa Hóstia tem permanecido sob o vidro em perfeita condição por mais de 780 anos.
OBS: “A ninguém é lícito conservar a Eucaristia na própria casa ou levá-la consigo em viagens, a não ser urgindo uma necessidade pastoral e observando-se as prescrições do Bispo diocesano” (CDC – Cân. 935).
Irmã Suzana do Coração Agonizante de Jesus, PJC
Fraternitas Nazaré "Fraternidade O Caminho" – São Paulo, SP

Clarissas Capuchinhas: adeptas do rock?

Esta música "Diante da Cruz" faz parte do CD "Diante da Cruz" das Clarissas Capuchinhas do Amapá, Brasil. As religiosas da Ordem de Santa Clara procuram desta forma falar a linguagem dos jovens, pregando o Evangelho também pela música, trazendo-os para junto de Jesus Cristo e de Sua Igreja, mediante a fé na Redenção obtidas pelo Senhor com sua morte na Cruz.
A voz principal é da Irmã Maria Giuliani, acompanhada pela Irmã Maria Paula.

Apenas para aumentar o seu conhecimento, é interessante que se diga que as Irmãs Clarissas Capuchinhas são um ramo dentro da Ordem de Santa Clara. Não foram fundadas diretamente por Santa Clara e São Francisco de Assis, mas por uma nobre senhora espanhola. Conheça um pouco mais sobre estas Irmãs contemplativas:
"Assim chamada por observar a Regra de Santa Clara e por esta confiada ao cuidado espiritual dos Frades Menores Capuchinhos. Foi fundada pela nobre senhora Maria Lorenza Llonc, espanhola, cujo nome foi italianizado em Maria Lorenza Longo, por ter vivido e atuado em Nápoli-Itália. Maria Lorenza era esposa de Juan Llonc, Regente da Chancelaria Régia, que foi para Nápoli com o rei Ferdinando, o católico, no final do ano de 1506. Maria estava com 43 anos de idade e doente de uma paralisia, causada pela vingança de uma empregada que, tendo sido admoestada, numa festa deu-lhe uma bebida envenenada.
Uns anos após a chegada em Nápoli, ficou viúva. Participou de peregrinação em vários Santuários. No Santuário de Loreto, ao ouvir com muita fé a proclamação do Evangelho da cura de um paralítico, Maria foi milagrosamente curada. Decidiu, então dedicar-se à assistência dos doentes e a outras obras de misericórdia.
Tornou-se uma figura central da beneficência napolitana.
Em 1522, ficou responsável pela direção do Hospital dos Incuráveis, dedicando seu tempo e seu cuidado também à assistência pessoal deles, com incansável amor.
Em 1530 chegaram em Nápoli também os primeiros Frades Capuchinhos, acolhidos por ela nas dependências do Hospital. Ela, no entanto, cultivava o desejo de consagrar o resto da própria vida na oração e na penitência, sob a direção inspirada de São Caetano de Thiene.
Em 1535, o Papa Paulo III a autorizava a construir um Mosteiro de Irmãs da Ordem Franciscana sob a Regra de Santa Clara.
Em 1536, o Papa Paulo III autorizava a fundadora a receber candidatas para aumentar o número de Irmãs que já eram 12, para 33. E no mesmo ano, o Papa a nomeou Madre Abadessa do Mosteiro de Santa Maria em Jerusalém, da Ordem de Santa Clara com o poder de indicar uma sucessora.
Em 1538, dia 10 de Dezembro, o Papa Paulo III, confiou aos Frades Capuchinhos a direção espiritual das religiosas.
Maria Lorenza tinha entrado de cheio na Corrente Espiritual Humanística de inspiração bíblica do fim do século XV, que ensinava uma espiritualidade derivada de São Paulo, toda orientada para o amor, como escada a Deus e como impulso para fazer o bem ao próximo, mas sob a guia dos Capuchinhos. Imprimiu na comunidade um estilo de vida, por lado mais Franciscano e aderente ao espírito da Regra de Santa Clara que observamos até hoje. Por outro lado, mais austero, sobretudo pelo que se refere à separação do mundo.
Quanto a pobreza, não se exige dote às que entram e nem se pode ter propriedade alguma… Vivemos do trabalho de nossas mãos e da Providência do Senhor. Vestimos roupas simples e celebramos a Liturgia das horas nas intenções das necessidade da Igreja e do mundo inteiro."
(fonte do texto entre aspas: http://vocacionalclarissascap.zip.net/)

João Paulo II e o palhaço Japo

"Diz-se que "um santo triste é um triste santo". Também há quem afirme que, nos Evangelhos, Jesus aparece duas vezes a chorar (por seu amigo Lázaro e pela sua querida cidade de Jerusalém). Mas que jamais os Evangelhos nos apresentam um Jesus alegre. Falso. Redondamente falso. São Lucas, o evangelista da festa e da alegria, registou: "Jesus estremeceu de alegria…" (Lucas 10,21)
A estremecer de alegria vemos João Paulo II, sobretudo durante as actuações do palhaço Japo. João Paulo II ria com toda a sua alma, com todo o seu corpo… Ria como uma criança…

Diego Pool é professor de Direito na Universidade Rei João Carlos de Madrid (Rey Juan Carlos de Madrid). Quando estudava na Faculdade, para fazer algum dinheirinho actuava de palhaço. Um dia propuseram-lhe actuar para o papa João Paulo II. Aceitou o desafio. E o Papa gostou tanto, tanto que voltaram a convidar o palhaço Japo (seu nome artístico) durante sete anos consecutivos, de 1987 a 1993," para se apresentar nos Encontros com universitários em Roma.
Apesar do vídeo no final deste artigo estar em espanhol, pode ser compreendido quase que totalmente. Ele é composto de duas cenas.
Na primeira cena o palhaço Japo tenta ligar um robô que toca violão e canta, mas a voltagem elétrica é tão grande que leva um choque. Depois, resolve ligá-lo manualmente, dando-lhe corda. Apesar de todas as tentativas, não consegue mantê-lo funcionando. Decide inflá-lo com uma bomba de encher pneu de bicicleta.
Na segunda cena um mágico tenta hipnotizar o palhaço Japo, mas não consegue porque, segundo ele, a inteligência do palhaço é muito pequena, já que nem sequer é capaz de acompanhar os movimentos de hipnose feitos com um frango de plástico. Em seguida, resolve pegar um estudante universitário para ser cobaia na mágica. Por fim, começam a se desemperar, visto que não conseguem tirar o estudante do estado hipnótico.
(texto entre aspas em português de Portugal: Frei Acílio Mendes, frade capuchinho)

domingo, 25 de julho de 2010

Falsas Profecias, Justificações e Trapalhadas Doutrinais das Testemunhas de Jeová

Fonte: Observatório Watchtower

Índice

1. Branqueamento da responsabilidade por falsas profecias
1.1 Exemplo 1: A falsa profecia de 1914
1.2 Exemplo 2: A falsa interpretação das “autoridades superiores”
1.3 Exemplo 3: Um tempo de “provas e purificação”
1.4 Exemplo 4: A falsa profecia de 1925
1.5 Exemplo 5: A falsa profecia de 1975: ‘A culpa foi vossa’
1.6 Exemplo 6: O uso da terceira pessoa
1.7 Exemplo 7: A “libertação de Babilônia” em 1919 e as “impurezas”:
1.7.1 Autoridades superiores
1.7.2 Desenvolvimento do caráter
1.7.3 Feriados pagãos
1.7.4 Cruz
1.7.5 Uso do nome Jeová
1.7.6 Democracia
2. Publicações antigas e “verdades estabelecidas” que deixaram de o ser
2.1 Estudos das Escrituras
2.2 O Mistério Consumado
2.2.1 Falsas previsões
2.2.2 Interpretações pitorescas
2.2.3 Beemote = máquina a vapor
2.2.4 Leviatã = locomotiva a vapor
2.2.5 Miguel e anjos = Papa e Bispos
2.2.6 O profeta Naum e o comboio
2.3 Outras “verdades” que caducaram
2.4 O acesso às publicações antigas
2.5 ‘Os cristãos primitivos também cometiam erros’
3. Apenas a “organização” sobreviverá à ‘grande tribulação’
4. Ideias e atitudes “independentes”
5. Bibliografia
Adaptado de uma mensagem enviada por Odracir para a mailing list testemunhas em 1999-12-02. Nas citações que aparecem nesta página, parte do texto foi colocado em letra maiúscula para ênfase. Algumas edições de A Sentinela citadas aqui, especialmente as mais antigas, foram publicadas inicialmente em lingua inglesa, podendo não haver a exata correspondência com a data da edição em português. Sobre o tema piramidologia, abordado neste artigo, recomendamos a leitura de A Sentinela de 1/1/2000, onde a Sociedade VIU-SE OBRIGADA a fazer um reconhecimento mais explícito e pormenorizado do assunto, após o mesmo vir a conhecimento público.

1. Branqueamento da responsabilidade por falsas profecias

1.1 Exemplo 1: A falsa profecia de 1914

No ano de 1889, no livro “The Time Is At Hand”, páginas 98 e 99, Charles Taze Russell declara:

“Na verdade, é esperar grandes coisas AFIRMAR, COMO O FAZEMOS, que dentro dos próximos 26 anos [1914/1915], TODOS os atuais governos serão DERRUBADOS e dissolvidos; porém, estamos vivendo em um tempo especial e peculiar, o “Dia de Jeová”, no qual os assuntos chegarão a uma conclusão RÁPIDA…. Em vista da forte evidência bíblica concernente aos Tempos dos Gentios, consideramos uma VERDADE ESTABELECIDA que o FINAL DEFINITIVO dos reinos deste mundo e o pleno estabelecimento do Reino de Deus se realize pelo fim de 1914 A.D.” (o maiúsculo é meu)
Tais afirmações referiam-se às previsões sobre os anos de 1874, 1878 e 1914, iniciando-se a ‘parousia’ de Cristo na primeira data (sua ‘posse’ como Rei na segunda data). É importante frisar que tais cálculos cabalísticos começaram com o inglês John Acquila Brown, no ano de 1823 — 29 anos antes do nascimento de Russell, 47 anos antes da formação do grupo dele e mais de meio século (54 anos) antes da publicação do livro que ele financiou, “Os Tres Mundos”. Diversas outras obras da organização reafirmaram tais cálculos como algo além de simples opinião, chamando-os de “datas de Deus” e, em alguns casos, questionando a fé ou a vigilância de quem deles duvidava — “Thy Kingdom Come” (1891), “Watchtower” de 15/1/1892, de 1/7/1894 e de 1/10/1907.

Em 1916, dois anos após o fracasso daquelas previsões e do desapontamento — desnecessário, diga-se de passagem — de Russell e de seus seguidores, os quais ficaram expostos ao escárnio público, o que afirmou ele sobre seu erro, agora impossível de ser negado? Deixemos que o próprio Russell fale:

“Este foi um erro natural no qual se pode cair, mas O SENHOR O INVALIDOU para a bênção de Seu povo. O pensamento de que a igreja seria ajuntada em glória antes de Outubro de 1914, TEVE CERTAMENTE UM EFEITO MUITO ESTIMULANTE E SANTIFICADOR sobre milhares, todos os quais podem consequentemente louvar o Senhor — ATÉ PELO ERRO.” (Prefácio de “The Time is At Hand”, 1916, página iv)
Note o leitor que, após envolver até o próprio Deus em seus erros, “invalidando-os” — na verdade, minimizando-os — encontrou o pastor Russell uma alternativa bastante conveniente a ter que encarar o fato de que suas predições nada tinham de “datas de Deus”. Chegou ele ao cúmulo de elogiar o erro, sim, de promover o erro como meio válido pelo qual Jeová guia seu povo. Isto deu margem, mais tarde, a novas predições, hábito este bastante comum entre os líderes das TJ até os nossos dias, bastante “fiéis” às suas origens, diga-se. Parece isto simples “explicação”, como quer o nosso companheiro H., ou clara JUSTIFICAÇÃO? Precisa Deus dos nossos erros?

Este caso não constitui exceção no “currículo” da Watchtower ou tampouco expressa a simples opinião de um membro da sociedade, à parte do que os outros pensavam e dissonante da postura histórica desta entidade no que se refere aos seus falhanços doutrinais. O próximo exemplo ilustra outra situação em que ela GLORIFICA, como organização, seus erros ao invés de se desculpar por eles — na verdade, subentende que eles foram SUPERIORES à verdade, em razão dos seus efeitos “protetores”. Vamos a ele:

1.2 Exemplo 2: A falsa interpretação das “autoridades superiores”

Até 1929, a Watchtower ensinava que as “autoridades superiores” mencionadas no capítulo 13 de Romanos correspondiam às autoridades governamentais seculares. A partir daquele ano, mudou seu “entendimento” do texto e passou a ensinar que o texto referia-se apenas a Deus e Jesus Cristo. Esta doutrina perdurou por mais de 30 anos, até que, em 1962, uma “nova luz” remeteu a sociedade DE VOLTA ao entendimento anteriormente abandonado — o que, por si só, desfere um golpe mortal na tese da “luz progressiva”. Este assunto é considerado em “A Sentinela” de 1/5/1996. Sobre a mudança doutrinária, o artigo, na pág. 14, diz:

“Olhando para trás, precisa-se dizer que esta maneira de encarar as coisas, que enaltecia a supremacia de Jeová e de seu Cristo, AJUDOU o povo de Deus a manter uma intransigente posição neutra durante este período difícil (isto é, desde a 2ª Guerra Mundial até a ‘guerra fria’)”. (o maiúsculo é meu)
Sobre isto, Ray Franz, com muita propriedade, diz:

“Quer dizer que, para todos os efeitos, ter tido o entendimento CORRETO, o entendimento que o apóstolo Paulo tinha em mente quando escreveu seu conselho, NÃO TERIA SIDO NEM TÃO SUFICIENTE PARA ORIENTAR, NEM TÃO EFICAZ PARA PROTEGER contra a ação não-cristã, quanto o conceito ERRÔNEO ensinado pela organização Torre de Vigia. Não há nada que mostre que Deus guie seu povo por meio do erro. Ele o fortalece com a verdade, NÃO COM O ERRO, em época de crise.” 1 João 1:5 (o maiúsculo é meu) — “Crise de Consciência”, pág. 497.
Alguém da lista concordaria, como quer o nosso companheiro H., que, neste caso, o corpo governante APENAS EXPLICOU, SEM DEFENDER?

1.3 Exemplo 3: Um tempo de “provas e purificação”

No Anuário de 1983, pág. 120, quase 70 anos depois do fracasso de 1914, a Watchtower insiste em minimizar seus erros ou, pelo menos, dar-lhes uma conotação piedosa. Após o relato sobre a inocultável frustração que envolveu a expectativa criada por Russell sobre o arrebatamento da igreja e o fim do mundo em 1914 — com o tropeço na fé de muitos — ela dirige a atenção do leitor para o fato de que aquele período era um tempo de “provas e purificação” — por meio do ERRO, naturalmente — e, a seguir, desvia-a para um comentário de um dos desapontados seguidores de Russell, o qual teria dito: “Em vez da esperada coroa da glória, recebemos um resistente par de botas para realizar a obra de pregação”. O assunto é concluído por aí mesmo, sem qualquer assumimento direto da responsabilidade por falsas previsões e suas consequências ou por um cândido pedido de desculpas, como seria de se esperar de humildes cristãos tementes a Deus.

Isto até que soaria comovente, caso não fosse hilariante! Parece isto mais com “explicação”, como quer o nosso companheiro H., ou com “justificação”?

1.4 Exemplo 4: A falsa profecia de 1925

No livro “Testemunhas de Jeová — Proclamadores do Reino de Deus” (1993), pág. 78, faz-se uma tentativa de justificação da falsa profecia de 1925, advogada pelo sucessor de Russell, J. F. Rutherford, por afirmar o seguinte:

“O ano de 1925 chegou e passou. Alguns abandonaram sua esperança. Mas a vasta maioria dos Estudantes da Bíblia permaneceu fiel. ‘Nossa família’, explicou Herald Toutjian, cujos avós se tornaram Estudantes da Bíblia no início do século, “chegou a reconhecer que esperanças não realizadas não são exclusividade dos nossos dias. Os próprios apóstolos tiveram semelhantes expectativas indevidas… Jeová é digno de serviço leal e de louvor COM OU SEM a recompensa final.”
O que, na verdade, isto quer dizer é COM OU SEM FALSAS PREVISÕES. Aquele argumento não procede, visto que não é a existência de uma recompensa que está em jogo — pois a Bíblia assegura a recompensa final aos servos leais de Deus — mas são as FALSAS EXPECTATIVAS criadas por uma organização, em função de uma data específica. A Watchtower, aqui, mais uma vez, passa ao lado da questão central, a saber, seus fracassos doutrinários. Queira notar o leitor que, tanto neste como no caso anterior, ela deixa que terceiros — membros dela, naturalmente — falem por ela. Dos que tropeçaram em razão das falsas profecias dela — nem uma palavra. Mesmo sabendo que muitos largaram seus empregos, venderam seus bens, abandonaram carreiras e até fazendeiros deixaram de colher suas safras, a Watchtower não lamenta aquele triste episódio. Mesmo sabendo que ele minou a fé de muitos, não só na organização, mas NA PRÓPRIA BÍBLIA. Mais uma vez ela não faz qualquer reconhecimento direto de que profetizou em vão. E, além disso, deixa de esclarecer ao leitor que, quando os apóstolos tinham expectativas quanto ao cumprimento de profecias em seus dias, eles estavam INDAGANDO a Cristo e NÃO ENSINANDO a milhões de “outras ovelhas”, no papel de ÚNICO CANAL ENTRE DEUS E OS SERES HUMANOS. A propósito, quanto a isto, Jesus respondeu aos discípulos: “NÃO VOS CABE OBTER CONHECIMENTO DOS TEMPOS OU DAS ÉPOCAS QUE O PAI TEM COLOCADO SOB SUA PRÓPRIA JURISDIÇÃO.” (Atos 1:7) Quão a sério tem o “escravo fiel e discreto” levado estas palavras nos últimos cem anos? Tem sido a estrita adesão a estas palavras de Cristo que tem motivado o conselho supremo da Torre de Vigia a especular sobre datas específicas para “o fim” ou terá sido o interesse em intensificar o ritmo de atividades de proselitismo dos adeptos, “alavancando” assim os chamados “AUGES” organizacionais tão propalados em sua literatura? Devemos louvar a Deus ou louvar números?

Mais uma vez, pergunto: parece isto com simples “explicação”, como quer o nosso companheiro H., ou clara “justificação”?

1.5 Exemplo 5: A falsa profecia de 1975: ‘A culpa foi vossa’

Em Toronto, Ontário, Canadá, na primavera de 1975, ao proferir discurso a uma vasta audiência, Fred Franz, então vice-presidente da Watchtower, declarou que ele e seus associados (o corpo governante) estavam ‘olhando com ansiedade particular’ para aquilo que o outono daquele ano traria. Contudo, um ano mais tarde, falando a uma audiência similar, ele falou em tom de retórica: “VOCÊS SABEM POR QUE NADA ACONTECEU EM 1975?” Daí, apontando para a platéia, ele falou em alto volume: “FOI POR QUE VOCÊS ESTAVAM ESPERANDO QUE ALGO ACONTECESSE!” Em outras palavras, desde que Jesus predisse que ninguém saberia “o dia ou a hora” de sua vinda para julgar a humanidade, as Testemunhas não deveriam ter acreditado que poderiam saber que ela ocorreria em 1975. Incrível como possa parecer, Franz pôs a culpa pelo fiasco inteiro na comunidade de Testemunhas e agiu virtualmente como se ele não tivesse qualquer responsabilidade na matéria. Fonte: “Apocalypse Delayed” (1985) — M. J. Penton

Embora o nosso companheiro H. prefira, nestes casos, desacreditar a fonte, ao invés de investigar os fatos ou de contestar embasadamente os relatos com contra-provas, eu publico este trecho neste fórum para que os demais tomem conhecimento dele e percebam que, a menos que Franz estivesse a mentir, o corpo governante, por meio de seu “oráculo” — nada menos que o vice-presidente e autor de muitas obras da organização — chegou ao ponto de remover a responsabilidade por fracassos doutrinários de seus próprios ombros e lançá-la sobre os lombos do seu próprio rebanho. E não disse isto em particular ao autor, mas em público, diante de uma vasta assistência. Será tudo mentira? Calúnia? Não houve tal fato? Em caso afirmativo, porque nenhum processo por calúnia, injúria ou difamação forçou uma retratação ou a retirada desta matéria de edição desde que foi lançada, há mais de uma década?

Isto é mais do que “explicação”, como quer o nosso colega H.. Tampouco é apenas “justificação”. Trata-se, na verdade, de pura desonestidade!

Tampouco é este um caso isolado. Vejamos como a Torre de Vigia justifica a mudança doutrinária sobre a geração de 1914, a qual ela sustentou por décadas e, quando se tornou insustentável, alterou, com consequências até sobre a contracapa das revistas “Despertai!” (a partir de 8/11/1995):

1.6 Exemplo 6: O uso da terceira pessoa

“Os estudantes da Bíblia, conhecidos desde 1931 como testemunhas de Jeová, esperavam também que o ano de 1925 traria o cumprimento de maravilhosas profecias bíblicas. ELES PRESUMIRAM que naquele tempo começaria a ressurreição terrestre, que traria de volta homens fiéis do passado, como Abraão, Davi e Daniel. Mais recentemente, MUITAS TESTEMUNHAS ACHAVAM que eventos relacionados com o começo do Reinado Milenar de Cristo poderiam começar a ocorrer em 1975. Sua expectativa baseava-se no entendimento de que o sétimo milênio da história humana começaria então.” — “Despertai!” de 22/6/1995 (o maiúsculo é meu)
“O POVO DE JEOVÁ, ansioso de ver o fim deste sistema iníquo, ÀS VEZES TEM ESPECULADO sobre quando irromperia a “grande tribulação”, até mesmo relacionando isso com cálculos sobre a duração da vida duma geração desde 1914.” — “A Sentinela” de 1995 (o maiúsculo é meu)
Queira o leitor notar aqui a tática habitual de falar NA TERCEIRA PESSOA, removendo a responsabilidade pelos erros doutrinários dos ombros do corpo governante e transferindo-a para as Testemunhas, como se elas tivessem chegado SOZINHAS àquelas conclusões, como se fossem elas a FONTE de alterações doutrinárias, como se não tivesse sido a própria sociedade que alimentou tais expectativas já a partir de 1969 (“Despertai!” de 22/4/69, “A Sentinela” de 15/2/69 e 15/9/75, bem como o “Ministério do Reino” de 7/74). Na verdade, as Testemunhas são as VÍTIMAS DE TAIS MUDANÇAS!

1.7 Exemplo 7: A “libertação de Babilônia” em 1919 e as “impurezas”

No afã de dar coerência à sua história e de se “purificar” de suas impurezas, a Watchtower vai bem além de “justificar”. Ela, às vezes, insulta a inteligência do leitor ou apóia-se em sua ignorância dos fatos, especialmente quando tais fatos já se dissiparam na corrente do tempo, envoltos na neblina do passado. Referindo-se às práticas e crenças advogadas pela organização no período de sua seleção por Jesus Cisto, ou seja, de 1914-1918, ela diz, em “A Sentinela” de 15/11/1980, o seguinte:

“Como os Israelitas dos dias de Isaías, os israelitas espirituais [Testemunhas de Jeová] venderam-se por causa de práticas errôneas e vieram a ligar-se ao império mundial de religião falsa, isto é, Babilônia, a Grande….”
Em “A Sentinela” de 15/7/1960, páginas 435 e 436, ela acrescenta:

“Eles tinham muitas práticas, características e crenças similares às das seitas da cristandade. Assim, de 1914 a 1918, um período de ardente teste veio sobre eles, não diferente do antigo período de captura dos Judeus por Babilônia lá em 607-537 AEC.”
“Jeová e Jesus Cristo permitiram que estas Testemunhas fôssem reprovadas, perseguidas, banidas e seus membros fôssem aprisionados pelas nações deste velho mundo.”
O episódio em questão refere-se à condenação e encarceramento de Rutherford e seus diretores, após julgamento sob a acusação de ‘espionagem’ por uma corte norte-americana, em 1919. Cumprir eventos portentosos e profecias de longo alcance da bíblia em um punhado de homens nos EUA em nosso século, sem provas para apoiar tais asserções, constitui um triste exemplo da presunção e arrogância típicas das seitas.

Note o leitor que, mais uma vez, a Watchtower fala na TERCEIRA PESSOA, e não na primeira. Pois bem, que práticas e crenças eram estas a que a sociedade se referia? O livro “As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino”, na pág. 91, lista algumas destas “impurezas”: .

1.7.1 “A crença de que as autoridades terrestres constituem as “altas potestades” ou “autoridades superiores” descritas em romanos 13:1, com resultante temor dos homens”.Comentário: Conforme já falei antes, tal pensamento perdurou até 1929, DEZ ANOS após a libertação dos assim chamados “israelitas espirituais” do seu cativeiro babilônico. Como se não bastasse, após 33 anos deste “avanço”, a sociedade retorna ao pensamento de antes de 1929, O MESMO QUE RESULTOU EM SEU APRISIONAMENTO POR “BABILÔNIA, A GRANDE”. Que sentido fez sua libertação, se uns dos motivos do encarceramento prolongou-se por mais uma década e retornou 43 anos depois?
1.7.2 Dar ênfase ao “desenvolvimento do caráter”.Comentário: a sociedade continuou a dar ênfase às “obras” cristãs, ao invés de dar primazia à fé (o que vem primeiro, antecedendo as obras) e a benignidade imerecida de Deus em suas publicações, só que agora sob um novo pretexto, o “revestir-se da nova personalidade” (Efésios 4:24), no lugar do “desenvolvimento do caráter cristão”, embora seja difícil entender a diferença entre estas duas coisas. Há uma farta quantidade de matéria publicada neste sentido, em nada diferindo das publicações antigas, anteriores a 1919, o ano da pretensa “purificação”.
1.7.3 “A celebração de feriados pagãos, como o Natal”.Comentário: o Natal CONTINUOU A SER CELEBRADO pela Watchtower até, pelo menos, 1926, havendo, inclusive, uma foto de Betel, com Rutherford à testa da mesa em meio a uma sala cheia de adornos natalinos e presentes — SETE ANOS, portanto, APÓS a pretensa “purificação”.
1.7.4 “O uso do símbolo da cruz”.Comentário: Não só a cruz CONTINUOU A SER USADA, como também o símbolo da maçonaria (o elmo da armadura dos “Cavaleiros Templares”), até, pelo menos, 1931, do modo como se vê na capa da revista “The Watchtower” de 15/7/1930 — 11 ANOS APÓS a pretensa “purificação”.
1.7.5 “Não usar o nome Jeová tão frequentemente quanto seria feito em tempos posteriores”.Comentário: em 1927, Rutherford lançou o livro “Creation” (“Criação”), onde se diz, na pág. 10:
“A Bíblia mostra que O NOME de Quem exerce poder supremo na criação e em todas as coisas, É DEUS. ELE TEM TAMBÉM OUTROS NOMES que se encontram na Bíblia, TODOS OS QUAIS têm um significado profundo acerca de seu propósito para com suas criaturas.” (o maiúsculo é meu)
Parece haver aqui — 8 ANOS APÓS a pretensa purificação” — alguma ênfase especial ao nome “Jeová”?

1.7.6 “Tendo uma forma democrática de administração congregacional”.Comentário: o assim chamado sistema “democrático” (por meio da eleição dos anciãos) PERDUROU ATÉ 1932 — 13 ANOS APÓS a pretensa “purificação” — quando Rutherford centralizou o poder decisório na pessoa do presidente da Watchtower, no caso, ELE PRÓPRIO, o que deu início uma virtual ditadura individual, a qual, só em 1976 foi substituída pelo arranjo de um Corpo Governante, resultando no sistema autoritário grupal que hoje conhecemos. O sistema é “democrático” até nos detalhes, como, por exemplo, a votação por maioria absoluta (2/3) nas reuniões do Corpo Governante, igual à câmara dos deputados e o senado, em Brasília. Também, neste caso, a sociedade “avançou” e depois “recuou” naquilo que constituía um dos motivos para seu encarceramento às mãos de “Babilônia, a Grande”.
Diante de tudo isto, fazem-se algumas perguntas: que sentido houve em haver um encarceramento “purificador” de práticas e crenças errôneas, se, após a libertação, tais coisas PERSISTIRAM por até mais de uma década, sendo que se RETORNOU a algumas delas, como fruto de “novas luzes”, as quais são bem conhecidas na atualidade? Não é o mesmo que um delinquente ser preso por diversos crimes e, após sua libertação, CONTINUAR A PRATICAR, por anos, todos eles ou até RETORNANDO a eles após um período de recuperação, SEM SER NOVAMENTE PUNIDO, ou até, ao contrário, considerando-se que o aprisionamento, de fato, resultou numa “purificação” que justificaria sua soltura? Não faz parecer que Deus e Cristo equivocaram-se ao permitir a libertação daquele grupo numa época em que continuavam a ter vínculos com as práticas de “Babilônia”? Acredita você nisto, H.? O Corpo Governante quer que você acredite…

Muitos outros exemplos eu poderia mencionar. Posso acrescentar vários outros, com a necessária documentação, caso você ache que estes não são suficientes, H.. Todavia, creio que isto só agravaria mais a situação. Em breve, lançarei artigo, provando que, quando necessário, a Watchtower, em sua defesa, lança mão até de injúria, difamação e revisionismo histórico. É mister lembrar que alguns dos erros doutrinários sequer mereceram uma justificativa. A mudança foi feita sem se mencionar a posição anterior (como, por exemplo, a mudança doutrinária quanto aos transplantes nos anos 1962,1968 e 1980). Contudo, creio que estes já são suficientes para demonstrar meu ponto: defender a organização “no geral” DE MODO ALGUM SIGNIFICA EXPLICAR ERROS PASSADOS SEM JUSTIFICÁ-LOS (ou defendê-los). Se esta é a sua atitude, H., certamente NÃO É A ATITUDE “FREQUENTE” DO CORPO GOVERNANTE. Os exemplos acima demonstram isto.

Assim sendo, em nome da lógica, mantenho meu entendimento anterior do assunto, no sentido de que a sua postura quanto ao primeiro ponto difere, sim, daquela manifesta pelo corpo governante. Se você quiser estar em fina sintonia com o “escravo fiel e discreto”, terá de aprender a omitir, “justificar”, “branquear” ou até louvar os erros passados, mentindo, se necessário….

2. Publicações antigas e “verdades estabelecidas” que deixaram de o ser

Quanto ao acesso a publicações antigas e já obsoletas vejamos o que diz o “Ministério do Reino” de Dezembro deste ano na seção de ‘anúncios’, conforme e-mail recebido da Espanha:

“De vez em quando, nos salões do Reino ou pessoalmente, se recebem ofertas de particulares que animam a adquirir publicações da Sociedade QUE JÁ NÃO SE REIMPRIMEM POR DIVERSAS RAZÕES. Oferecem-se fotocópias ou CD-ROM e quem assim procede o faz SEM AUTORIZAÇÃO DA SOCIEDADE. OS MEMBROS DA CONGREGAÇÃO RECONHECEM QUE TEM TUDO O QUE NECESSITAM ATRAVÉS DO “ESCRAVO FIEL E DISCRETO”, o qual supre ‘o alimento [de que necessitamos] no tempo apropriado’, por causas teocráticas estabelecidas (Mateus 24:45-47) (o maiúsculo é meu)
Note o leitor que a própria sociedade admite que diversas publicações suas “não se reimprimem por DIVERSAS RAZÕES”. Naturalmente, ela prefere, aqui, não entrar no mérito de QUE RAZÕES SÃO ESTAS. Seria, deveras, muito embaraçoso analisar tais razões pormenorizadamente. Se fosse solicitada a falar destas “diversas razões”, não seria surpresa que a resposta fôsse: “O povo de Deus (3ª pessoa) teve de fazer “ajustes” quanto ao que esta literatura ensinava…” — resposta bem típica da Watchtower. Antes que alguém diga que se trata de mera proteção de direitos autorais, releia o texto e note que NÃO é este o motivo alegado pela sociedade neste anúncio. Ela não deixa aqui espaço para a aquisição de publicações expiradas sob qualquer que seja o pretexto, não abrindo exceção mesmo que a publicação de tais obras não tenha fins lucrativos, coisa que a lei de direitos autorais não proíbe. Mais adiante, a própria organização mostra O MOTIVO: os seus adeptos “reconhecem que têm tudo o que necessitam”, deixando implícito que AQUELES QUE ADQUIREM TAIS PUBLICAÇÕES VÃO ALÉM DAQUILO DE QUE PRECISAM. Diante disto, pergunta-se: O que há de tão inconveniente em tais publicações, de modo que a Torre de Vigia prefira mantê-las fora do alcance de seus membros? Por que ela desestimula seus adeptos a consultá-las, ao passo que os estimula a CONTENTAREM-SE com o que é provido como “verdade atual” pelo “escravo fiel e discreto”? Por que não abre espaço a que um cristão, ainda que sob o pretexto de pesquisa pessoal e melhor familiarização com os primórdios da organização, passe a examinar o conteúdo de obras expiradas há décadas atrás? Não lhe daria isto uma visão mais abrangente do desenvolvimento da “Organização de Deus”? Ou, ao contrário, PORIA EM RISCO sua fé? Há algo a se esconder? O que veremos a seguir mostra que há.

“Quem se esquece do passado, condena-se a repetí-lo…”

Passo agora a apresentar algumas “amostras” daquilo que a Watchtower quer que continue bem longe das mentes de suas vítimas e que outrora foi “verdade estabelecida” em publicações hoje “caducas”. Vamos a algumas delas:

2.1 “Estudos das Escrituras”


The Divine Plan of the Ages (1886)
The Divine Plan of the Ages as Shown in the Great Pyramid (1915)
“Studies in the Scriptures” (“Estudos das Escrituras”) — C. T. Russell — Obra composta de 6 volumes ao todo, inicialmente com o nome “Millennial Dawn” (“Aurora do Milênio”), o maior legado do “Pastor” Russell a seus seguidores. Em 1886 foi escrito o primeiro de seus volumes — “The Divine Plan of the Ages” (“O Plano Divino das Eras”). Em 1915 foi publicada pela organização uma obra de 438 páginas, quase homônima — “The Divine Plan of Ages as Shown in the Great Pyramid” (“O Plano Divino das Eras Como Mostrado na GRANDE PIRÂMIDE”) — provavelmente de autoria de Morton Edgar — uma edição de visual mais atraente do que o primeiro volume de Russell. Na capa, o título é subdividido em dois — no alto, em “layout” praticamente idêntico ao livro de Russell, temos o título “The Divine Plan of the Ages”, no centro, ao invés da gravura do “anel alado” egípcio, comum em diversas publicações da Watchtower — inclusive na capa de TODOS os volumes de “Studies in the Scriptures” –, vemos a gravura da Pirâmide de Gizé e, abaixo, o complemento do título “As Shown in the Great Pyramid”. Queira o leitor examinar as gravuras abaixo. Repare bem no aspecto das letras do título no alto em ambas as capas. Não parece se tratar de edições diferentes de UMA MESMA obra? Não é difícil deduzir que tal livro (o da direita) nada mais é do que uma confirmação dos cálculos de Russell baseados em piramidologia, os quais são apresentados no terceiro volume do “Studies in the Scriptures”, entitulado “Thy Kingdom Come” (“Venha o Teu Reino”). A Watchtower jamais menciona as DUAS obras JUNTAS, apesar da estreita relação entre elas, até na aparência das letras. Por exemplo, no Anuário de 1976, páginas 40 e 41, ela cita o livro “The Divine Plan of the Ages” (o da esquerda) e, a exemplo de outras retrospectivas, omite completamente a existência daquela outra obra publicada (a da direita) na mesma linha de ensino pela organização. Até hoje me pergunto se o redator do Anuário de 1976 alguma vez ouviu falar do livro de 1915. Havia alguma razão para omití-lo?

No capítulo 10 do Volume III de “Studies in the Scriptures” (“Estudos das Escrituras”), lemos:

“O testemunho divino da Testemunha e Profeta de Pedra” — A GRANDE PIRÂMIDE DO EGITO
“Naquele dia haverá um altar a Jeová em meio à terra do Egito, e uma coluna a Jeová ao lado de seu limite, e tem que resultar ser para sinal e para testemunho a Jeová dos Exércitos na terra do Egito.” Isaías 19:19, 20 (Página 313)
Após fazer uma descrição geral da pirâmide, diz-se a seguir:

“…[a pirâmide] converteu-se em objeto de interesse crescente PARA CADA CRISTÃO MADURO no estudo da palavra de Deus; pois ela parece dar-nos de uma maneira notável, e de acordo com todos os profetas, UM ESQUEMA DO PLANO DE DEUS PARA O PASSADO, PRESENTE E FUTURO.” (Página 314)
Mais adiante, o livro acrescenta as seguintes expressões sobre a pirâmide egípcia:

“…seu testemunho está EM PERFEITA HARMONIA COM A BÍBLIA….. é uma poderosa TESTEMUNHA corroborativa do plano de Deus…. a harmonia de seu testemunho com a Palavra escrita…. a construção da grande pirâmide foi projetada e construída pela mesma sabedoria divina, sendo realmente a ‘coluna’ de testemunho da qual falou o profeta [Isaías].” (Páginas 314-315)
Alguém sabe quem primeiro recebeu o título “Testemunha de Jeová”, desde a criação da Watchtower? O livro responde:

“…quando se lançou a idéia segundo a qual a grande pirâmide é a ‘Testemunha’ de Jeová, cujo testemunho é de igual importância tanto para a verdade divina quanto para a ciência pura…” (Página 320)
Russell chega a comparar a pirâmide à Bíblia:

“E, ainda, vemos que este repositório de conhecimento, TAL COMO A MAIOR PARTE DO CONHECIMENTO DA BÍBLIA, foi propositadamente mantido selado até que o seu testemunho fosse necessário e apreciado.” (Página 320)
Referindo-se a Jeová, o livro diz:

“Será que isto significa que o seu grande Arquiteto sabia que viria um tempo em que o seu testemunho seria necessário? [...] Parece que sim.” (Páginas 320-321)
A partir daí todo um diagrama é traçado, relacionando as medidas, símbolos e passagens da grande pirâmide egípcia com o plano de Deus, a vinda de Cristo, a data de 1914 e assim por diante, fazendo um paralelo entre a Bíblia e os segredos ocultos nesta construção erigida por reis pagãos, adoradores de animais e escravizadores dos hebreus.

A simples leitura deste capítulo nos dias atuais permite-nos formar um esboço das idéias místicas, esotéricas e cabalísticas do senhor Charles T. Russell, ao lançar os alicerces daquela que seria a entidade que um dia controlaria a vida de 6 milhões de seres humanos. Seria, de fato, muito embaraçoso expor tal conteúdo a uma TJ em nossos dias. Seria uma ameaça real e imediata à fé dela na Torre de Vigia. Naquela época, para aqueles que ousassem questionar tais ensinos — pesadas críticas e o questionamento da fé da pessoa. Hoje em dia, Russell seria DESASSOCIADO por tais idéias “apóstatas”…

E pensar que era a obras como esta que a Watchtower referia-se ao publicar os seguintes comentários:

“Se os seis volumes de “Studies in the Scriptures” são de modo prático a Bíblia topicamente arranjada, COM PROVAS TEXTUAIS BÍBLICAS, podemos de modo próprio denominar os volumes — A BÍBLIA NUMA FORMA ARRANJADA.”
“Além do mais, não só achamos que as pessoas não podem visualizar o plano divino ao estudar a Bíblia em si mesma, mas entendemos outrossim que se alguém PÕE DE LADO o “Studies in the Scriptures”, mesmo depois de os ter usado, depois de ter se familiarizado com eles, depois de os ter lido por dez anos — se então os põe de lado e ignora E VAI PARA A BÍBLIA SOZINHO, embora já entenda a Bíblia há dez anos, nossa experiência demonstra que ELE VAI PARA AS TREVAS DENTRO DE DOIS ANOS. Por outro lado, se ele tivesse simplesmente lido o “Studies in the Scriptures”com suas referências, E NÃO TIVESSE LIDO UMA PÁGINA DA BÍBLIA, semelhantemente, ESTARIA NA LUZ ao término de dois anos, porque teria a luz das escrituras.” “Watchtower”de 1/9/1910, pág. 298 (o maiúsculo é meu)
Um simples exame nos trechos que trancrevi há pouco mostra quão presunçosas, vazias, antibíblicas e ridículas são tais conclusões!

O que não pensaria hoje o “Pastor” Russell ao ver que NENHUM de seus livros — os quais supostamente protegeriam os cristãos contra as “trevas” espirituais — é hoje publicado pela Sociedade Torre de Vigia, tendo a sua última edição se esgotado há mais de 70 anos?!

2.2 “O Mistério Consumado”


The Finished Mistery (1917)
“The Finished Mistery” (“O Mistério Consumado”) — publicado em 1917 pela Watchtower durante a presidência de J. F, Rutherford, em continuação a “Studies in the Scriptures” (sétimo volume), como obra póstuma de Russell, apesar de incluir outros dois autores. Foi à publicação deste livro que se atribuiu falsamente o “cisma” de 1917. De fato, se tivessem lido seu conteúdo, conforme veremos, talvez os membros da diretoria (expulsos por Rutherford) se opusessem à sua publicação, no todo ou em parte. Já na capa, encontramos O MESMO símbolo pagão egípcio dos volumes de “Studies in the Scriptures” analisados no ítem anterior, a saber, o “anel alado”. Trata-se de uma obra de conteúdo grotesco, repleto de sandices, interpretações pitorescas — quase psicodélicas — e falsas previsões. Foi exatamente este livro que minou a fé de Peter Gregerson, ancião por anos e amigo pessoal de Ray Franz. O que teria ele encontrado de tão grave ao ponto de se desligar da Watchtower após esta leitura? Vamos a algumas “preciosidades” (queira o leitor ter em mente que este livro foi um marco na história da organização, em uma época em que, dizia-se, Cristo estava a examinar todas as religiões e a rejeitá-las em favor da Watchtower):

OBS: sugiro ao leitor que acompanhe em sua Bíblia as citações, à medida em que surgirem.

2.2.1 Falsas Previsões

“Revelação 16:20 — ‘Também toda ilha fugiu’ — ATÉ AS REPÚBLICAS DESAPARECERÃO NA CHEGADA DE 1920. [Página 258]
‘…e os montes não foram encontrados.’ — TODOS OS REINOS DA TERRA PASSARÃO, SERÃO TRAGADOS EM ANARQUIA.” [Página 258]
“Ezequiel 24:24 — ‘E Ezequiel tornou-se para vós um portento. Fareis segundo tudo o que ele fez. Quando vier, então tereis de saber que eu sou o Senhor Deus.’ — ENTÃO A SILENCIOSA TRISTEZA NO CORAÇÃO DO PASTOR RUSSELL SE TORNARIA UM SINAL PARA A CRISTANDADE. AS PENOSAS EXPERIÊNCIAS DO PASTOR RUSSELL NESTE RESPEITO SERÃO AQUELAS DE TODA A CRISTANDADE. [Página 485]
24:25, 26 — ‘E quanto a ti, ó filho do homem, não será no dia em que eu tirar deles seu baluarte, o belo objeto de sua exultação, a coisa desejável a seus olhos e o anseio da sual alma, seus filhos e suas filhas, que nesse dia virá a ti o fugitivo para fazer os ouvidos ouvir?’ — TAMBÉM, NO ANO DE 1918, QUANDO DEUS DESTRUIR AS IGREJAS POR COMPLETO E OS MEMBROS DAS IGREJAS AOS MILHÕES, TERÁ DE SER QUE, QUALQUER UM QUE ESCAPE, SE CHEGARÁ À OBRA DO PASTOR RUSSELL PARA APRENDER O SIGNIFICADO DA QUEDA DO ‘CRISTIANISMO’.” [Página 485]
“…Nenhum vestígio dela [a cristandade] sobreviverá às devastações da abrangente anarquia mundial, na chegada de 1920.” [Página 542]
2.2.2 Interpretações Pitorescas

Revelação 14:20 — ‘E o lagar foi pisado fora da cidade, e saiu sangue do lagar, até à altura dos freios dos cavalos, a uma distância de 1600 estádios.’
Utilizando a versão de Rotherham, a qual diz ’1200 estádios’, ao invés de ’1600 estádios’, o livro revela sua “interpretação” do texto bíblico. Vejamos [página 230]:

“Isto não pode ser interpretado como referindo-se à linha de batalha de 2100 milhas da guerra mundial. Um oitavo de milha ou estádio não é uma milha e é fora da cidade, enquanto a linha de combate é dentro da cidade. Veja a tradução de Rotherham.
Um estádio é 603,75 pés ingleses; 1200 estádios são 137,9 milhas.
O trabalho neste volume foi realizado em Scranton, Pennsylvania. Tão logo foi concluído, foi enviado a Betel. Metade do trabalho foi feito a uma distância comum de 5 quadras da estação de Lackawanna, e a outra metade a uma distância de 25 quadras. Quadras em Scranton são 10 por milha. Logo, a distância comum à estação é de 15 quadras, ou 1,5 milhas
A milhagem de Scranton ao terminal de Hoboken é mostrado em tabelas de tempo como sendo de 143,8 e esta é a milhagem cobrada dos passageiros, mas em 1911, ao custo de 12.000.000 de dólares, a ferrovia de Lackawanna completou seu famoso atalho, reduzindo em 11 milhas a distância. Desde o dia em que o atalho foi concluído, os ferroviários têm à sua disposição 11 milhas a menos do que a tabela mostra, ou uma distância líquida de 132,8 milhas
Do ‘Ferry-boat’ de Hoboken ao ‘Ferry-boat’ da Rua Barclay, Nova Iorqu e, temos 2,0 milhas
Do ‘Ferry-boat’ da Rua Barclay ao ‘Ferry-boat’ de Fulton, Nova Iorque, temos 4800 pés ou 0,9 milhas
Do ‘Ferry-boat’de Fulton, Nova Iorque, ao ‘Ferry-boat’ de Fulton, Brooklyn temos 2,000 pés ou 0,4 milhas
Do ‘Ferry-boat’ de Brooklyn a Betel temos 1,485 pés ou 0,3 milhas
A menor distância desde o lugar onde o lagar foi pisado pelos pés dos membros do Senhor, Cuja orientação, apenas, tornou possível a produção deste volume (João 6:60, 61; Mateus 20:11) é 137,9 milhas”
2.2.3 Beemote = Máquina a Vapor

O animal que Jó menciona no capítulo 40 de seu livro, de nome “beemote” (entendido atualmente como referindo-se ao hipopótamo) é representado em “The Finished Mistery” [páginas 84-86] — parte por parte — como referindo-se a uma MÁQUINA A VAPOR ESTACIONÁRIA, como se Jó estivesse a descrever seus diversos componentes, tais como caldeira (as “ancas” do animal), grades (os “ossos” do animal), pistões (os “tendões” do animal), combustível, no caso, carvão (a “palha” de que se alimenta o animal) etc.

2.2.4 Leviatã = Locomotiva a Vapor

O “leviatã” descrito por Jó no capítulo 41 de seu livro (entendido atualmente como referindo-se ao crocodilo) é igualmente representado em “The Finished Mistery” [páginas 84-86], peça por peça, como correspondendo à descrição — pasme o leitor — de UMA LOCOMOTIVA A VAPOR, como se Jó estivesse a descrever componentes, tais como cabine (a “cabana” de um pescador), cilindros (as “narinas” do animal), engate (a “língua” do animal), caldeira (as “placas” do animal), parafusos (“espinhos” na pele do animal), farol (os “olhos” do animal), porta da caldeira (a “boca” do animal), rebites (os “dentes” do animal) e até a referir-se ao seu uso, como transportar pessoas a um piquenique ou convenção….

2.2.5 Miguel e Anjos = Papa e Bispos

De acordo com “The Finished Mistery” [páginas 188 e 189], “Miguel e seus anjos”, descritos em Revelação 12:7, correspondem AO PAPA EM ROMA E SEUS BISPOS… (hoje a Watchtower diz que são Jesus Cristo e seus anjos)

2.2.6 O Profeta Naum e o Comboio

De acordo com “The Finished Mistery” (página 93), o profeta Naum, em seu livro, cap. 2, versículos 3 a 6, descreve UM TREM EM MOVIMENTO (e não um automóvel, como alguns pensavam), com seus componentes detalhados — o farol (o “escudo”), o pessoal da caldeira (os “homens de valor”), vagões (as “carruagens”), estação (a “barricada”) e até os carregadores de bagagem, ônibus do hotel, passageiros e amigos aguardando a chegada da locomotiva no terminal….

O exame de tais passagens, por si só, deixa-me perplexo com aquilo que um dia, foi servido à mesa de Jeová, como ÚNICO “ALIMENTO ESPIRITUAL NO TEMPO APROPRIADO” disponível para seu povo àquele período. Tais alegorias, fruto de uma mente (ou mentes) fantasiosa, oscilam — em minha opinião — entre o ridículo e o patético, levando-me a questionar até a sanidade mental dos autores de tais disparates. Alimentar-se-ia você àquela época desta mesa, H.? Infelizmente, creio que sim….

Uma pergunta: o que aconteceria a um membro da Watchtower que questionasse ou simplesmente insinuasse que tais ensinos poderiam estar errados? Resposta: a perda de “privilégios” ou até a “exclusão” da organização e, consequentemente, a destruição no Armagedon, então, “às portas”!

Como descreve na atualidade a Torre de Vigia tal obra? Reconhece ela tais absurdos ou tenta “justificá-los”? Em 1988, a publicação “Revelação — Seu Grande Clímax Está Próximo!”, na página 165, descreve “The Finished Mistery” — pasme o leitor — como “UM PODEROSO COMENTÁRIO SOBRE APOCALIPSE E EZEQUIEL”! (de fato, “poderoso” o suficiente para destruir a fé de Peter Gregerson)

Tal versão dos fatos, parece-me, só poderia se basear em duas coisas: ou a ignorância do autor desta publicação de 1988 sobre o conteúdo do livro “The Finished Mistery” ou a CERTEZA DE QUE TAL LIVRO NÃO ESTARIA DISPONÍVEL ÀS TESTEMUNHAS ATUAIS para um exame minuncioso sobre quão “poderoso” era tal “comentário”. A segunda hipótese me parece mais provável. Mesmo que uma TJ hoje em dia consiga o acesso a tal livro, publicado há mais de 80 anos, o que certamente não é fácil, conseguirá ela expor tais coisas aos outros 6 milhões delas espalhadas pelo mundo? Não, pois seria desassociada antes de tentar qualquer coisa entre os seus próprios. O que aconteceria se tal conteúdo “nonsense” fosse mostrado às pessoas com quem se dirigem estudos bíblicos domiciliares na atualidade? Mostraria você tais coisas aos seus estudantes, H.? Se assim o fizesse, poria em risco o “progresso” deles e certamente cairia na desaprovação da Torre de Vigia. Não acha você que TODA Testemunha de Jeová no mundo TINHA O DIREITO de conhecer tais fatos ANTES DE SE BATIZAR? Acha você que isto NÃO INFLUIRIA na decisão delas ? No meu caso, certamente influiria e, creio, no caso de cada um aqui. Se influiria, então era meu direito saber. Todavia, após mais de 14 anos como membro da organização, só agora vim a conhecer tais coisas, pois nem meu instrutor sabia delas. E certamente nem o instrutor dele…

Isto me faz lembrar as palavras da própria Watchtower, no livro “É esta vida tudo o que há?”, pág. 46, onde ela pergunta: DESEJARIA ASSOCIAR-SE A UMA RELIGIÃO QUE NÃO O TRATOU COM HONESTIDADE? Minha resposta: NÃO. Foi exatamente porisso que deixei a Torre de Vigia…

2.3 Outras “verdades” que caducaram

Diversas outras obras poderiam ser mencionadas, tais como:

O folheto “Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão” — 1920 (a falsa profecia de 1925 e a “campanha dos milhões”),
“A Harpa de Deus” — 1921 (confirmando 1799, e não, 1914 como o início do “tempo do fim” [páginas 236, 229 e 230]),
“Filhos” — 1941 (onde os casais eram incentivados a adiar seu casamento e a não terem filhos [páginas 312, 313 e 366]),
“Watchtower” de 15/9/41, página 288 (onde se dizia que o Armagedon estava “poucos meses” à frente),
os livros sobre as profecias do “Rei do Norte” e “Rei do Sul”, que simplesmente sumiram depois da queda da URSS e muitas, muitas outras publicações.
Creio que estes exemplos já bastam. Não é à toa que muitos entre os que deixam a Torre de Vigia, perdem toda sua fé em Deus. Dizer que Deus dirigia tais assuntos só pode resultar em uma coisa — vitupério ao Seu Nome! Há mais de um século que a Watchtower lança desonra sobre Deus e Jesus Cristo!

2.4 O acesso às publicações antigas

Quanto ao material contido na biblioteca de Betel estar à disposição de QUALQUER TJ para consulta, nada posso provar, embora eu, pessoalmente, duvide que seja assim, especialmente em face do anúncio no “Ministério do Reino”, o qual mencionei anteriormente. Que tal enviar uma correspondência a Cesário Lange, solicitando uma fotocópia dos livros “O Plano Divino das Eras”, o “Mistério Consumado” ou “Milhões que Agora Vivem Nunca Morrerão” para estudo pessoal e pesquisa ou com o inocente fim de formar uma biblioteca pessoal da literatura da Torre de Vigia? Que resposta você acha que receberia, H.? Gostaria de tentar? Convido-o a fazê-lo e nos informar da resposta. Todavia, acho que seria de seu interesse saber que, ATÉ PARA OS MEMBROS DO CORPO GOVERNANTE, houve restrições. Ray Franz, na pág. 332 de seu livro “Crise de Consciência”, relata um incidente ocorrido em uma das reuniões fechadas do CG, quando foi interrogado sobre a leitura que supostamente tinha feito de comentários bíblicos. Ray respondeu:

“Começei a usá-los mais extensamente em resultado das recomendações de meu tio, durante o projeto do livro ‘Ajuda ao Entendimento da Bíblia’. Se a opinião é de que não devo usá-los, então, há seções inteiras na biblioteca de Betel que deveriam ser esvaziadas, pois há dúzias de coleções de tais comentários lá.”
O fato é que, por um lado, desestimulando seus adeptos a pesquisar literaturas expiradas e, por outro, não reimprimindo um trecho sequer de tais obras, a Watchtower está, de fato, a obstruir o acesso das Testemunhas de Jeová da atualidade a tais publicações. Isto chama-se CONTROLE DE INFORMAÇÃO. É uma prática comum aos sistemas totalitários…

2.5 ‘Os cristãos primitivos também cometiam erros’

No que se refere à sua tentativa de justificar os erros doutrinários da Watchtower, comparando-os a erros de textos extra-bíblicos do primeiro século, fico a me perguntar se a congregação cristã primitiva respondia ou não pelas consequências daquilo que você chama de “conceitos esdrúxulos” extra-bíblicos. Pergunto-me se ela procurava ocultar de seus membros tais erros, “branqueá-los” ou se procurava até “louvar” tais erros — como faz a Watchtower — fazendo-os parecer úteis à causa de Jesus Cristo ou como “proteção” ao povo de Deus. Principalmente quando, de tais “conceitos esdrúxulos” resultam perdas de vidas humanas, como a proibição às vacinas, aos transplantes ou ao recebimento de “frações” do sangue, sem que a sociedade assuma culpa de sangue por estes erros. Isto sem falar nos prejuízos pessoais daqueles que se desfizeram de seus bens, abdicaram de carreiras ou de constituir família em razão das falsas expectativas criadas pela literatura da sociedade. Ou daqueles que desperdiçaram os melhores anos de sua juventude atrás das grades por rejeitarem o serviço militar alternativo, hoje liberado. Ou dos que viram seus entes amados lhe virarem o rosto, renegando-os como apóstatas e odiadores de Deus, sob o beneplácito e incentivo dos “conceitos esdrúxulos” publicados em “A Sentinela” e “Despertai!”.

Acha mesmo válida tal analogia entre os primitivos cristãos e a Torre de Vigia, H.? Por que absolver a Watchtower por seus “conceitos esdrúxulos” altamente danosos e, ao mesmo tempo, condenar outras denominações religiosas pelos seus próprios “conceitos esdrúxulos” (em alguns casos, menos prejudiciais do que os de Brooklyn), os quais elas poderão rever e modificar no futuro, assim como você alega que a Torre de Vigia tem feito? Acaso Deus é parcial? Se você absolve a Torre de Vigia e condena as outras religiões (o que suas palavras parecem indicar), certamente está sendo parcial. Se, por outro lado, não desaprova outras religiões, está sendo ecumênico, coisa que o “escravo fiel e discreto” condena. De que lado ficará você? Do lado de Deus? Pode-se estar ao lado de Deus, ao passo que se discorda, em parte, dos ensinos do “único canal” entre Ele e a humanidade?

3. Apenas a “organização” sobreviverá à ‘grande tribulação’

Alegra-me que você considere que o julgamento divino se dá em base individual e não necessariamente POR SE ESTAR LIGADO a uma denominação religiosa ou “redil jurídico”, como você chama. Também vejo desta forma. Todavia, O “ESCRAVO FIEL E DISCRETO” NÃO PENSA ASSIM. Você suscita a questão sobre a identidade daquilo que se denomina a “arca” figurativa para os nossos dias, como se ela pudesse ser outra coisa que não a organização ou “redil jurídico” Torre de Vigia de Bíblias e Tratados. Vejamos o que diz o livro “Poderá Viver para Sempre no Paraíso na Terra”, pág. 195:

“A ORGANIZAÇÃO VISÍVEL de Deus hoje também recebe ORIENTAÇÃO E DIREÇÃO teocráticas. NA SEDE DAS TESTEMUNHAS DE JEOVÁ EM BROOKLYN, New York, existe um corpo de anciãos cristãos de várias partes da terra que dão A NECESSÁRIA SUPERVISÃO às atividades mundiais do POVO DE DEUS. Este corpo governante é composto de membros do ‘escravo fiel e discreto’. Serve qual porta-voz do ‘escravo’ fiel.” (o maiúsculo é meu)
Há alguma dúvida sobre o “redil jurídico” a que se refere este texto — mencionado por nome e endereço — ao qual toda pessoa necessariamente tem que estar ligada para obter a aprovação de Deus?

E se a pessoa INDIVIDUALMENTE quer servir a Deus, sem a intermediação da Watchtower? Pode ela encontrar a aprovação divina? Ser-lhe-á isto contado como mérito? Deixemos que o “escravo fiel e discreto” responda:

“Alguns que se chamam cristãos e anunciam Deus como seu Pai gabam-se de andar com Deus apenas, que Ele lhes dirige os passos pessoalmente. Tais pessoas não só abandonam o ensino ou lei da MÃE, mas eles literalmente LANÇAM A “ESPOSA” DE DEUS [a organização] NAS RUAS.” (“Watchtower” de 1/5/57, pág. 274. O maiúsculo é meu.)
O livro “Qualificados para ser ministros” — 1967, pág. 156, chega ao cúmulo de dizer:

“Se temos amor por Jeová e pela organização de Seu povo não seremos suspeitosos, mas, como a Bíblia diz, ‘acreditaremos em todas as coisas’, TODAS AS COISAS QUE A ‘WATCHTOWER’ PUBLICAR…”
Adicionalmente, o livro “Poderá viver…”, na pág. 255, diz:

“Foi apenas aquela única arca que sobreviveu ao dilúvio e não um sem-número de embarcações. E HAVERÁ APENAS UMA ORGANIZAÇÃO — a organização visível de Deus — que sobreviverá à ‘grande tribulação’ que rapidamente se aproxima. Simplesmente NÃO É VERDADE QUE TODAS AS RELIGIÕES CONDUZEM A UM MESMO FIM. VOCÊ PRECISA PERTENCER À ORGANIZAÇÃO DE JEOVÁ, a fim de receber Sua bênção de vida eterna.”
A “organização visível de Deus” a que o livro se refere aqui não é outra senão a Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados.

Assim, não posso deixar de notar, novamente, uma discrepância entre o seu pensamento, H., e o pensamento do corpo governante, ao qual deveria estar completamente submisso. Concorda que tem de estar submisso? Em “A Sentinela” de 1/10/1967, páginas 587-592, lemos:

“Aquele que reconhece a organização teocrática visível de Jeová, portanto, TEM DE RECONHECER E ACEITAR esta designação do “escravo fiel e discreto” e SER SUBMISSO A ELA.” (o maiúsculo é meu)
Pode-se ser parcialmente submisso e ainda assim, obter a aprovação divina? Não é isto o que o corpo governante ensina.

4. Ideias e atitudes “independentes”

No tópico “independência”, infelizmente, seu conceito, H., novamente difere do conceito do corpo governante. Não pretendo polemizar. Vou apenas provar documentalmente o que agora afirmo. Comecemos pelo que diz “A Sentinela” de 15/7/1983, sob o tópico “Evite Idéias Independentes”:

“Como se manifestam tais idéias independentes? Um modo comum é questionar o conselho provido pela organização de Deus.”
Mas talvez você afirme: “Eu não questiono tais conselhos!”

Uma maneira de questionar é por não cumprir à risca um de tais conselhos, não acha? Vamos a um exemplo? “A Sentinela” de 15/12/1981″, sob o tópico “Deve-se falar com o desassociado ou o dissociado?”, diz:

“….O apóstolo Paulo que deu este aviso sábio era íntimo de Jesus e sabia muito bem o que Cristo dissera sobre cumprimentar outros. Ele sabia também que a saudação costumeira daquele tempo era: “Paz”. Diferente de algum inimigo pessoal ou dum homem de autoridade do mundo, que se opõe aos cristãos, o desassociado ou dissociado que procura promover ou justificar seu pensamento apóstata, ou que continua no seu proceder ímpio, certamente não é alguém a quem se deseja “Paz”. E todos sabemos de experiência no decorrer dos anos que UM SIMPLES “Oi” dito a alguém pode ser o primeiro passo para uma conversa ou mesmo para uma amizade. QUEREMOS DAR ESTE PRIMEIRO PASSO COM ALGUÉM DESASSOCIADO?”
O conselho da Watchtower aqui parece claro, não? Felizmente você adotou uma atitude “independente” neste respeito, H.. Principalmente pelo fato de a sociedade, em artigos mais recentes, ter aconselhado seus membros a “odiar no sentido bíblico” os classificados por ela como apóstatas — “A Sentinela” de 1/10/1993. É elogiável que você também não tenha seguido mais este conselho. Sinceramente espero que você continue assim — independente!

5. Bibliografia

Raymond Franz, Crise de Consciência (Brasil, Fortaleza/CE: Primeira Edição, 1999) ISBN 85-901057-1-7.
M. James Penton, Apocalypse Delayed. The Story of Jehovah’s Witnesses (Toronto, Buffalo, London: University of Toronto Press, 1985) ISBN 0-8020-6721-2.
Raymond Franz, In Search of Christian Freedom (Atlanta: Commentary Press, 1991) ISBN 0-914675-16-8.
Esequias Soares da Silva, Provas Documentais (Brasil, São Paulo: Editora e Distribuidora Candeia, 1.ª edição, 1997).

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Pascom debate novas tecnologias da Comunicação


“Para fazer uma boa Pastoral da Comunicação não basta a tecnologia, mas, também sermos cristãos”. Com estas palavras, o arcebispo do Rio de Janeiro e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para Cultura, Educação e Comunicação Social, dom Orani João Tempesta, abriu ontem, 21, o 2º Encontro Nacional de Comunicação da Pascom.

O evento, que acontece no subsolo do Santuário de Nossa Senhora Aparecida, em aparecida (SP), tem o objetivo de articular e motivar a Pastoral da Comunicação (Pascom), englobando as novas ferramentas tecnológicas.
Dom Orani destacou o desafio de se fazer comunicação na Igreja. “Para nós há uma diferença essencial em se fazer comunicação. O desafio é ter por trás uma pessoa que tenha espiritualidade e fé. A técnica não disfarça isso”, disse.

O arcebispo disse que é preciso viver a unidade na pluralidade. “O desafio está na unidade pela pluralidade, trabalharmos juntos sem destruir o outro”, concluiu.

O encontro prossegue até sábado, 24, e reúne mais de 300 agentes da Pascom. A programação de hoje constou de dois painéis, um pela manhã e outro à tarde. Cada painel contou com a participação de três convidados. A programação da sexta-feira, 23, tem como destaque a entrega dos prêmios de comunicação da CNBB à noite. Durante o dia, serão realizados, simultaneamente, quatro seminários para os quais os agentes da Pascom se inscreveram.

Por que os protestantes não lêem as obras de Lutero?

Nos debates entre católicos e protestantes, nós, católicos, notamos que nossos opositores são bastante exigentes em relação ao detalhamento das doutrinas da Igreja. Geralmente submetem-nos a diversas perguntas, sejam elas bem ou mal formuladas. O apologista católico, então, deve estar preparado, estudar a doutrina de sua Igreja, ler as obras dos padres apologistas, e responder a esses fundamentalistas satisfatoriamente (infelizmente, eles não se satisfazem com respostas). Mas, será que os protestantes buscam nos seus “pais” a resposta para nossas questões?

Vocês, leitores, já perceberam que os protestantes geralmente buscam suas fontes a partir de grandes teólogos do passado e do presente, mesmo de Calvino, no caso dos calvinistas, e vários outros teólogos modernos? Entretanto, geralmente falta um personagem, o personagem principal, no âmbito reformado: Martinho Lutero.

Já é ampla a nossa cobertura da revolta protestante do século 16, mas muito ainda falta ser dito. Os protestantes costumam colocar Lutero como um príncipe, um homem iluminado, que trouxe à luz a Igreja que jazia nas trevas da “corrupção”. Em todos os meios protestantes, Lutero foi um homem que, ao ler “um livro proibido”, a Bíblia, descobriu em suas letras simples a doutrina até então “obscura” de Cristo: a salvação somente pela fé. Desde então Lutero é uma figura ímpar na história do protestantismo. Inclusive alguns teólogos católicos reconhecem em Lutero valores dignos dos grandes doutores da Igreja.

Porém, seus escritos praticamente desapareceram da estante dos protestantes modernos (ou pelo menos, de suas obras). O que vemos hoje é que os protestantes fundamentalistas se baseiam mais em sua própria opinião “errada” das Escrituras do que num fundamento ao menos mais criterioso. Entretanto, será que é válida a fundamentação da teologia protestante na herança dos estudos de Lutero?

Quantos protestantes, mesmo pastores, já leram obras de Lutero. Dificilmente um católico que não seja estudioso do assunto leria. Mas espera-se que os protestantes tenham uma certa noção dos escritos dos seus pais. Nós católicos buscamos ler e entender o que pensavam e ensinavam os pais da Igreja: Inácio, Clemente, Leão, Tertuliano, Gregório, Agostinho, Vicente, Aquino. Entre milhares de outros. É uma vasta literatura, mas todo católico que esteja interessado nas suas doutrinas busca conhecer a sua patrologia.

Lutero deixou uma obra extensa, da qual em português creio não existir nem metade. Suponho, também, que nem metade dos protestantes já leu as obras dele. O que será que encontrariam? Talvez não gostem muito do que encontrarão, caso se aventurem. Na realidade, apesar de ser um estudioso da Bíblia, ter causado uma revolução no seio da Igreja, muitas vezes Lutero foi um blasfemo. Ao menos, pelos seus escritos, é o que nos parece.

Muitos protestantes questionam os católicos acerca do que falaram os seus teólogos do passado. Muitos dizem que Papas pecaram, disseram isso ou aquilo. Tudo isso, para eles, é prova de que a Igreja Católica não é a Igreja fundada por Jesus, nosso Senhor. Que o Espírito Santo não pode conduzir uma Igreja que ensina a “venda do perdão”, por exemplo. Outros alegam que a Igreja não podia ter transferido a um homem o poder que somente Deus contém. Entre várias outras alegações, os erros do passado são, para os protestantes, prova mais que suficiente de que a Igreja é demoníaca.

No nosso país, é comum o uso de “ditados populares”. Um deles, que podemos até aplicar aqui, é “Cuidado! O peixe morre pela boca”.

Muito do que Lutero escreveu, em confronto com o Papa e a autoridade da Igreja, é defendida até o fim pelos seus idealistas. Mas será que defenderiam com a mesma vontade o Lutero que vamos apresentar aqui? Talvez fiquem surpresos, digam que ele não quis dizer o que está aparentado, que existem outros escritos dele que dizem o contrário. Ora, pelo que vamos ler, parece que não há como entender outro contexto, o que faz com que entendamos exatamente o que Lutero quis dizer quando da redação das obras. E se existem outros escritos dele que dizem o contrário, isto não é um fator de alívio, mas de complicação.

Mas, de qualquer forma, o leitor julgue as palavras de Lutero…ditas pelo próprio reformador.


Seja um pecador

Se és um pregador da graça, então pregue uma graça verdadeira, e não uma falsa; se a graça existe, então deves cometer um pecado real, não fictício. Deus não salva falsos pecadores. Seja um pecador e peque fortemente, mas creia e se alegre em Cristo mais fortemente ainda…Se estamos aqui (neste mundo) devemos pecar…Pecado algum nos separará do Cordeiro, mesmo praticando fornicação e assassinatos milhares de vezes ao dia. (American Edition, Luther’s Works, vol. 48, pp. 281-82, editado por H. Lehmann, Fortress, 1963. ‘The Wittenberg Project;’ ‘The Wartburg Segment’, translated by Erika Flores, de Dr. Martin Luther’s Saemmtliche Schriften, Carta a Melanchthon, 1 de agosto de 1521. )

Lutero está claramente dizendo que os nossos pecados, mesmo o pecado mais intenso imaginável, não importa. Diz que podemos cometer os pecados de forma convicta, que mesmo assim não nos separaremos de Deus. Imagine um católico dizendo tal coisa a um protestante, em um debate sobre o pecado, qual seria a resposta do protestante? (não responda, caro leitor, apenas abra sua Bíblia e leia o que ela diz sobre o pecado ? Mt 25,32; Mt 13,30; Mt 3,10; Hb 10,26-29).


Fazer o bem é mais perigoso que o mal

Estas almas piedosas que fazem o bem para chegar ao céu não somente não o alcançarão, como serão arranjados entre os ímpios; e importa mais em impedi-los de fazerem boas obras que pecados. (Wittenberg, VI, 160, citado por O’Hare, in “The Facts About Luther“, TAN Books, 1987, p. 122).
Sim, é isso que você leu. Deve-se evitar praticar boas obras, não pecados. Acaso foi isso que Jesus ensinou? Pense em Cristo exortando a pecadora, em vias de ser apedrejada, e, ao segurá-la pela mão, dizer: “vá, e não pratique mais boas obras”. Na verdade, o que Lutero quer dizer é “não se preocupe com os pecados, Jesus os encobrirá. Preocupe-se com suas boas obras, isto lhe condenará“. As Escrituras dizem que seremos julgados pela forma como vivemos a nossa fé. Paulo diz claramente, em Rm 2,5-11, que o justo julgamento de Deus será de acordo com nossas ações. De acordo com 2Cor 5,10, receberemos a recompensa de Deus de acordo com nossos atos, bons ou ruins. Segundo Lutero, seremos recompensados por não fazer boas obras, enquanto que nossos pecados não influirão no julgamento de Deus.

Você pode perguntar: mas não são os protestantes que acreditam “somente na Bíblia“? Bem, responderíamos, somente quando lhes convém…


Não há livre arbítrio

…Em relação a Deus, e a tudo que importa na salvação e condenação, o homem não possui livre-arbítrio, é um cativo, um prisioneiro, um escravo, seja da vontade de Deus, seja da vontade de Satanás. (Bondage of the Will, Martin Luther: SelectionsFrom His Writings, ed. by Dillenberger,Anchor Books, 1962 p. 190).
Tudo que fazemos é por necessidade, não por livre-arbítrio, pois o livre-arbítrio não existe… (Ibid, p. 188)

O homem é como um cavalo. Deus o está montando? Um cavalo é obediente e aceita as vontades de seu dono, e vai onde quer que ele queira. Acaso Deus soltou as rédeas? Então Satanás sobe em seu dorso, e o submete aos seus caprichos…Portanto, a necessidade, e não o livre-arbítrio, é o princípio controlador de nossa conduta. Deus é o autor do que é mal como do que é bom, e, da forma como concede a felicidade àqueles que não a merecem, assim também condena a outros que não desejaram seu destino. (‘De Servo Arbitrio‘, 7, 113 seq., citado por O’Hare, in ‘The Facts About Luther, TAN Books, 1987, pp. 266-267.)
A Bíblia discorda de Lutero. Lemos em Eclesiástico 15,11-20: “Não digas: É por causa de Deus que ela me falta. Pois cabe a ti não fazer o que ele abomina. Não digas: Foi ele que me transviou, pois que Deus não necessita dos pecadores. O Senhor detesta todo o erro e toda a abominação; aqueles que o temem não amam essas coisas. No princípio Deus criou o homem, e o entregou ao seu próprio juízo; deu-lhe ainda os mandamentos e os preceitos. Se quiseres guardar os mandamentos, e praticar sempre fielmente o que é agradável (a Deus), eles te guardarão. Ele pôs diante de ti a água e o fogo: estende a mão para aquilo que desejares. A vida e a morte, o bem e o mal estão diante do homem; o que ele escolher, isso lhe será dado, porque é grande a sabedoria de Deus. Forte e poderoso, ele vê sem cessar todos os homens. Os olhos do Senhor estão sobre os que o temem, e ele conhece todo o comportamento dos homens“.

Os protestantes, claro, replicarão dizendo que Eclesiástico não é um livro canônico. Apesar de estarem errados, e Eclesiástico ser sim um livro canônico (leia os porquês em vários artigos de nossos site), podemos citar livros que eles apreciam como Escritura Sagrada: Dt 30,19-20: “Tomo hoje por testemunhas o céu e a terra contra vós: ponho diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhe, pois, a vida, para que vivas com a tua posteridade, amando o Senhor, teu Deus, obedecendo à sua voz e permanecendo unido a ele. Porque é esta a tua vida e a longevidade dos teus dias na terra que o Senhor jurou dar a Abraão, Isaac e Jacó, teus pais“. Vemos que o homem, além de ser livre para escolher, ele é obrigado a fazer tal escolha. Em Gn 4,7 lemos: ?Se praticares o bem,, sem dúvida alguma poderás reabilitar-te. Mas se precederes mal, o pecado estará à tua porta, espreitando-te; mas, tu deverás dominá-lo?.

Em Jo 15,15: “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor. Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai“. Não nos parece que João concorda com Lutero a respeito da natureza eqüina dos homens, nem de seu jóquei…

Lutero disse que Deus é o responsável pelo bem e pelo mal. Porém Paulo também discorda dele, pois escreveu: “Pois, se nós, que aspiramos à justificação em Cristo, retornamos, todavia, ao pecado, seria porventura Cristo ministro do pecado? Por certo que não!“. Por certo que Lutero está errado.


Os cristãos não estão sujeitos a autoridade alguma

Todo cristão é pela fé tão exaltado sobre todas as coisas que, por meio de um poder espiritual, é senhor de todas as coisas, sem exceções, que nada lhe causará mal. De fato, todas as coisas foram feitas sujeitas a ele e são orientadas a servi-lo na sua salvação. (‘Freedom of a Christian,’ Martin Luther. Selections From His Writings, ed. por Dillenberger, Anchor Books, 1962 p. 63.)

Injustiça é feita quando as palavras ?sacerdote, clérico, espiritual, eclesiástico? são transferidas de todos os cristãos para aqueles poucos que são chamados por costume mesquinho de “esclesiásticos” (Ibid., p. 65)

Segundo Lutero, não há necessidade de sacerdotes, e da hierarquia. Todo cristão tem uma relação livre com Deus. Isto parece algo muito bom, e realmente nós podemos ter uma relação direta com Deus. Entretanto não podemos excluir o papel da hierarquia e dos sacerdotes. Lemos no livro de Números, capítulo 12, que a irmã de Moisés, Mirian (Maria), disse: “Porventura é só por Moisés, diziam eles, que o Senhor fala? Não fala ele também por nós“. A Bíblia mostra que “o Senhor ouviu isso” e disse “Por que vos atrevestes, pois, a falar contra o meu servo Moisés?” e logo depois “Maria foi ferida por lepra“. A Bíblia nos ensina a não proceder contra os escolhidos por Deus: “Deus me guarde de jamais cometer este crime, estendendo a mão contra o ungido do Senhor, meu senhor, pois ele é consagrado ao Senhor!” (1Sam 24,7). Pela intercessão de Moisés, Mirian foi curada da lepra. Logo depois vemos Coré (Num 16) se rebelar contra Moisés e Aarão: “Basta! Toda a assembléia é santa, todos o são, e o Senhor está no meio deles. Por que vos colocais acima da assembléia do Senhor?“. A Bíblia mostra que, por causa desta revolta, “Saiu um fogo de junto do Senhor e devorou os duzentos e cinqüenta homens que ofereciam o incenso“. Isto pode ser a semelhança do que espera aqueles que se rebelam contra os desígnios de Deus: “Voltar-se-á em seguida para os da sua esquerda e lhes dirá: – Retirai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno destinado ao demônio e aos seus anjos” (Mt 25,41).


Os camponeses mereceram seu destino

Assim como as mulas não se movem até que seu dono lhe puxe as cordas, assim o poder civil deve conduzir as pessoas comuns, açoitá-los, enforcá-los, queimá-los, torturá-los e decapitá-los, para que aprendam a temer o poder estabelecido (El. ed. 15, 276, citado by O’Hare, em ‘The Facts About Luther, TAN Books,1987, p. 235).
O camponês é um porco, e quando um porco é abatido, ele está morto, e da mesma forma os camponeses não pensam sobre a vida futura, pois do contrário se comportariam de outra maneira. (‘Schlaginhaufen,’ ‘Aufzeichnungen‘ p. 118, citado ibid., p. 241).

Trata-se do episódio da guerra dos camponeses de 1525. O próprio Lutero recomendava aos príncipes: “impeça-os da forma que puderem, como se matam cachorros loucos” (Ibid., p. 235). Erasmo de Roterdã, contemporâneo de Lutero, relatou que mais de cem mil camponeses perderam suas vidas (Ibid., p. 237).

Provavelmente você, leitor católico, já foi defrontado por protestantes com o argumento de que a Igreja “matou milhões de pessoas na inquisição”, entre outras acusações (mal informadas, no caso das inquisições). Porém, como estamos mostrando neste artigo, poucos são os que conhecem que Lutero, Calvino e Elisabeth promoveram massacres contra católicos ou não-católicos. Muitos, na verdade, não sabem nem mesmo que Calvino mandou queimar Miguel de Serveto, ou porque Thomas Moore foi decapitado, na Inglaterra…


Poligamia

Confesso não poder evitar que uma pessoa despose muitas mulheres, pois tal não contradiz as Escrituras. Caso um homem escolha mais de uma mulher, deve procurar saber se está satisfeito com sua consciência de que o fará em acordo com o que diz a Palavra de Deus. Neste caso, a autoridade civil nada tem a fazer. (De Wette II, 459, ibid., pp. 329-330)


Somente pela Escritura Lutero não pôde descartar a poligamia. Talvez ser bígamo, ter várias mulheres ao mesmo tempo, sem ser fiel a nenhuma delas, não influencie na conduta cristã de buscar na Bíblia somente o que diz respeito à salvação…


A Bíblia poderia melhorar

A história de Jonas é tão monstruosa que é absolutamente inacreditável (‘The Facts About Luther, O’Hare, TAN Books, 1987, p. 202)
Eu jogaria o livro de Esther no Elbe. Sou de tal forma inimigo deste livro que preferiria que não existisse, pois é judaizante demais e com grande parte de idiotices pagãs. (Ibid.)

A carta de Tiago é uma carta de palha, pois não contém nada de evangélico (‘Preface to the New Testament,’ed. Dillenberger, p. 19.)
Se algo sem sentido foi falado, este é o lugar. Eu confirmo o que muitos já haviam dito que, com muita probabilidade, esta epístola não fora escrita pelo apóstolo, e não merece o nome do apóstolo. (‘Pagan Servitude of the Church‘ ed. Dillenberger, p. 352.).
Para mim tal livro* não possui qualquer característica cristã. Que cada um julge este livro; eu mesmo tenho aversão, e isto é o suficiente para rejeitá-lo (Sammtliche Werke, 63, pp. 169-170, ‘The Facts About Luther,’ O’Hare,TAN Books, 1987, p. 203). *NT: Trata-se do livro de Apocalipse.
É dito que Lutero entendeu a Bíblia “como se Deus falasse ao coração”. Mas é difícil de imaginar que o próprio Deus, que lhe “falou ao coração”, revelasse que Tiago escreveu uma epístola sem valor. Tal confusão é bem parecida com a “inspiração pelo Espírito Santo” que os evangélicos têm hoje em dia para confirmar a veracidade de suas interpretações bíblicas. É interessante também notar que, para os protestantes, a Bíblia é a autoridade final, correto? Porém vemos que Lutero se coloca acima da autoridade da Bíblia, escolhendo quais livros devem pertencer ou não a ela, e ainda com a “autoridade” de definir determinado livro. Na realidade, Lutero se colocou acima da Bíblia que afirma estar sujeito. Sem perceber, os protestantes de ontem e de hoje fazem o mesmo.

Os protestantes, debatendo sobre os deuterocanônicos, citam passagens que dizem que os que acrescentam qualquer coisa à Palavra de Deus serão condenados. Demonstramos com vários artigos que, na realidade, quem acrescentou ou retirou algo da Bíblia foram os reformadores. E o próprio Lutero admite tal feito, com a adição da palavra “somente” em Rm 3,28 de sua tradução para o alemão:

Se um papista lhe questionar sobre a palavra “somente”, diga-lhe isto: papistas e excrementos são a mesma coisa. Quem não aceitar a minha tradução, que se vá. O demônio agradecerá por esta censura sem minha permissão. (Amic. Discussion, 1, 127,’The Facts About Luther,’ O’Hare, TAN Books, 1987, p. 201)

Judeus para o inferno

Os judeus são pequenos demônios destinados ao inferno (‘Luther’s Works,’ Pelikan, Vol. XX, pp. 2230).
Queime suas sinagogas. Negue a eles o que disse anteriormente. Force-os a trabalhar e trate-os com toda sorte de severidade…são inúteis, devemos tratá-los como cachorros loucos, para não sermos parceiros em suas blasfêmias e vícios, e para que não recebamos a ira de Deus sobre nós. Eu estou fazendo a minha parte. (‘About the Jews and Their Lies,’ citado em O’Hare, in ‘The Facts About Luther, TAN Books, 1987, p. 290)
Mesmo se os judeus fossem inimigos, Lutero deveria amá-los, e não tratá-los como cachorros loucos, muito menos recomendar tal tratamento. Os cristãos devem reconhecer nos judeus o povo chamado por Deus e portador de sua revelação, e que possuem um papel na história da salvação. De fato, o chamado descobridor da doutrina de Deus encoberta pelos católicos, não parece ser familiar com a doutrina cristã que alegam ter resgatado.


Cristo pecador

Cristo Adúltero. Cristo cometeu adultério pela primeira vez com a mulher da fonte [do poço de Jacó] de que nos fala São João. Não se murmurava em torno dele: “Que fez, então, com ela?” Depois, com Madalena, depois, com a mulher adúltera, que ele absolveu tão levianamente. Assim, Cristo, tão piedoso, também teve que fornicar, antes de morrer. (Lutero, Tischredden, Table Talk, Weimar, Vol. II, p. 107, apud Franz Funck Brentano, Martinho Lutero, Ed Vecchi Rio de Janeiro 1956, p. 15).
Creio que não se pode comentar tais palavras, assegurando que vieram do nome daquele que cultuam hoje como “a estrela que brilhou no meio à escuridão da idade média”. Não há dúvida: Lutero está errado. Cristo se assemelhou em tudo a nós, menos ao pecado. Isto é evidente pela Sagrada Escritura e pela autoridade da Igreja, pois Cristo é Deus. Imagine, leitor, o que aconteceria se você apresentasse este fragmento a um protestante, esperasse este identificar quem o disse, e depois revelar que foi dita por nada menos que Martinho Lutero?

Infelizmente, os protestantes se recusarão a buscar as obras de Lutero e de outros reformadores. Sua metodologia “minha consciência é meu guia” lhe impede de aderir a qualquer semelhança com a doutrina de algum ser humano, ainda mais se este ser humano ensinou o que mostramos acima. Na realidade, os protestantes, que acham que retiram suas doutrinas da Bíblia, na realidade copiam as conclusões de outras pessoas, como Lutero (o que é um mal negócio), Calvino (também), ou o que pode ser ainda pior, de suas próprias conclusões.

Talvez a única conclusão que podemos retirar destas, e de várias outras frases, é a que o apóstolo Paulo nos incentiva: “Examinai-vos a vós mesmos, se estais na fé. Provai-vos a vós mesmos…A menos que a prova vos seja, talvez, desfavorável” (2Cor 13,10).

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